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A crise do PT não é política

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Por Redação
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Desde o momento em que percebeu que o PT não passaria tão facilmente pelo petrolão como passou pelo mensalão – ainda que as condenações da Ação Penal 470 tenham sido uma indelével mancha na história de seu partido, Lula conseguiu antes a sua reeleição e era isso o que realmente parecia importar –, o ex-presidente começou a difundir a ideia de que era preciso uma “revolução interna no partido”. Precisava urgentemente de um novo discurso para seu partido. Ciente de que as propostas de origem já não faziam sentido – antes, por exemplo, o PT pregava a ética na política –, Lula reconheceu, durante o último Congresso do partido, em junho, que “o PT precisa construir uma nova utopia”.

Obedecendo à ordem do chefe, a Executiva do PT formulou no mesmo mês algumas propostas para tirar o PT da má fama. Entre as ideias anunciadas estava a criação de um conselho político do partido. Com reuniões mensais, o grupo ajudaria a pensar uma atuação partidária adequada à conjuntura política nacional.

No entanto, aquilo que se pensava que ajudaria a tirar o PT da crise se transformou em mais um sintoma da própria crise. Segundo o jornal O Globo, o conselho político ainda não saiu do papel pela simples razão de que está difícil encontrar quem aceite integrar o grupo. Três pessoas já recusaram o convite do PT. O conselho de notáveis – que poderia ajudar a criar a tal agenda positiva do partido, desviando o foco da Lava Jato – está sendo um termômetro da gravidade da crise em que o partido se meteu pelas próprias mãos. Hoje, um convite do PT não é algo que se aceite sem muita ponderação.

Porta-voz da Presidência da República durante o primeiro mandato de Lula, André Singer, professor de ciência política da USP, agradeceu a honraria do convite para participar do conselho, mas disse não poder aceitar.

O ex-governador do Rio Grande do Sul Tarso Genro, que recentemente se mudou para o Rio de Janeiro para fundar uma frente de esquerda e conta com larga experiência em crise – foi presidente do PT durante o processo do mensalão –, também recusou o convite. Parece que prefere manter prudente distância desta crise. Em junho, mostrou-se um tanto surpreso por ter sido arrolado como testemunha de defesa do ex-tesoureiro do partido, João Vaccari. “Nunca tive nenhuma intimidade com o Vaccari. Até estranhei eu ser arrolado como testemunha de defesa. O que faço, evidentemente, com muito prazer, mas não sei em que posso colaborar com esse processo”, afirmou ao juiz Sérgio Moro.

Outro com quem a direção do PT esperava contar para tirar o partido da crise era Guilherme Boulos, dirigente do Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto (MTST). Mas também Boulos preferiu que não constasse de seu currículo essa colaboração com o PT. Dispôs-se a ajudar pontualmente na discussão de algum tema, mas acha mais prudente não fazer parte de um grupo formal do partido. Ao jornal carioca, Boulos afirmou que “o MTST preza por manter uma relação de independência e de autonomia em relação a qualquer partido”.

Ao anunciar em junho o tal conselho de notáveis, o presidente do PT, Rui Falcão, insistia na falácia de que a crise do seu partido era fruto da “mais sórdida campanha de difamação que um partido político já sofreu neste País”, conforme Lula vinha pregando a torto e a direito. Diante de uma crise de comunicação, seria preciso dotar o partido de cabeças que pensassem uma estratégia eficiente para adequá-lo à atual conjuntura política nacional. Aí, sim, a estrela do PT voltaria a brilhar.

A dificuldade em encontrar quem aceite convite para integrar o tal conselho político mostra aos dirigentes do PT o que eles se recusam a admitir: a crise do partido não é política, mas moral. Mais do que um discurso bem articulado e eleitoralmente atrativo, o PT simplesmente precisa adequar-se à conjuntura moral e à conjuntura legal do País. Para se reerguer, primeiro precisa deixar de brigar com a moral e com a lei.