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A dança das cadeiras

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Por Redação
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Depois que o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) concedeu registro a duas novas siglas - o Partido Republicano da Ordem Social (Pros) e o Solidariedade - e negou licença ao Rede Sustentabilidade, houve intensa troca de partidos na Câmara no último dia de prazo para mudar de legenda com vistas à eleição de 2014. Dos 513 deputados federais, 59 (12%) já não pedirão voto pelo partido pelo qual concorreram em 2010. Desses, 35 aproveitaram a brecha da lei eleitoral que permite mudar a filiação sem risco de perder a cadeira, e entraram nos dois partidos que acabaram de ser fundados.Esse expediente foi utilizado com sucesso em 2011 pelo Partido Social Democrático (PSD), fundado pelo então prefeito Gilberto Kassab. A permissão para mudar para um partido novo permitiu que muitos parlamentares incomodados com a lei de pão e água imposta à oposição procurassem sombra e água fresca numa agremiação que prometia não ser de direita nem de esquerda, mas que anunciava a adesão à base governista federal.Desta vez, porém, o PSD provou do próprio veneno: como nenhum de seus membros tinha sido eleito pela sigla - que não existia em 2010, quando foram disputadas as últimas eleições parlamentares federais -, quem quis sair para se abrigar em qualquer dos partidos existentes pôde fazê-lo. Ou seja, o truque que tornou possível construir uma bancada bastante grande para ficar com um bom quinhão do Fundo Partidário (dinheiro público distribuído segundo a representação parlamentar) agora facilitou a redução em 7 parlamentares - entraram 3 e saíram 10. E, sem ter mais cargo relevante na administração pública para atrair interessados, Kassab achou positivo ter ficado em segundo lugar em defecções.O maior perdedor foi o Partido Democrático Trabalhista (PDT), de Carlos Lupi. Mesmo tendo o controle do Ministério do Trabalho, cuja gestão tem sido muito contestada por suspeitas de fraude, o PDT perdeu 9 deputados - mais de um terço de sua bancada de 26 - sem ter incorporado nenhum novo.Um deles, Carlos Manato (ES), chegou a gastar R$ 8 mil para pintar de azul - uma das cores do Partido Progressista (PP) - um sobrado ao lado de sua casa. A intenção era transformar o lugar em sede do PP, que ele pretendia liderar na região. Ameaçado de perder o cargo por infidelidade, desembolsou mais R$ 8 mil para repintar a sede de laranja, cor do Solidariedade, de Paulinho da Força, outro dissidente do PDT. Manato queixou-se de que o PDT é "um partido de dono, de decisão monocrática", que não lhe deu nenhuma das 78 direções municipais no Espírito Santo.Os insatisfeitos com a "monocracia" de Lupi bandearam-se para o lado de Paulinho. Segundo o presidente do PDT, que passou a ter a 12.ª bancada da Câmara, "Paulinho quer um partido para chamar de seu". E rogou uma praga citando o fundador da sigla, Leonel Brizola: "Quando Brizola morreu, tínhamos 8 deputados federais, e aí depois fizemos 27. Nessa época, Brizola disse que a política e os políticos profissionais adulam e adoram os traidores, mas a história os abomina".Liliam Sá (RJ) não se perturba com esse tipo de maldição. Em agosto, ela saiu do PSD e voltou para o Partido da República (PR) pelo qual foi eleita. Dois meses depois, migrou para o Pros e explicou as duas mudanças: "O mais seguro é voltar ao partido de origem, caso em que o deputado não leva consigo o tempo de TV e o Fundo Partidário, ou ir para um novo, situação em que pode levá-los".Os 21 deputados que se inscreveram no Solidariedade e os 14 que foram para o Pros o fizeram basicamente porque queriam dirigir diretórios regionais para usar ou negociar o Fundo Partidário e o tempo da TV. Assim, o governador do Ceará, Cid Gomes, entrou no Pros para sair da campanha de Eduardo Campos, do Partido Socialista Brasileiro (PSB). E o deputado Miro Teixeira cederá seu palanque de candidato a governador do Rio do mesmo Pros para o mesmo Campos.Em nossa política, nada é programático, tudo é pragmático.