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A desconfiança como legado

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Por Redação
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A confiança dos brasileiros nas principais instituições políticas – Presidência da República e Congresso Nacional – despencou a um nível sem precedentes desde que começou a ser monitorada pelo Ibope há sete anos. Em sua coluna da última quinta-feira no Estado, José Roberto de Toledo revela os principais resultados da pesquisa anual Índice de Confiança Social, que monitora a confiança da população em instituições e grupos sociais e revela que, pela primeira vez, a Presidência não é mais confiável do que o Congresso. Ambos registram agora apenas 22 pontos numa escala de 0 a 100. Em relação à pesquisa de um ano atrás, o índice da Presidência foi reduzido à metade dos então 44. O Congresso perdeu 13 dos 35 pontos anteriores.  Esses números não surpreendem na medida em que refletem a gravidade da crise política, econômica, social e moral em que 12 anos de administração petista afundaram o País. Trata-se, na verdade, de uma crise construída ainda no segundo mandato do presidente Lula. Naquela ocasião, o País comemorou conquistas sociais e econômicas que, como se comprova agora, foram irresponsavelmente construídas sobre a base cediça de uma política populista inspirada pela combinação do viés ideológico retrógrado com a manipulação eleitoral de legítimos anseios populares.  No que diz respeito à Presidência da República, a nova pesquisa confirma que o poste inventado por Lula logrou a proeza de bater mais um recorde negativo: as pessoas confiam mais no governo como equipe do que na chefe da turma. Até agora, invariavelmente a confiança na pessoa do presidente da República era maior do que no governo sob seu comando. De 2009 a 2012, a confiança na Presidência ficou sempre de 7 a 13 pontos acima daquela inspirada pelo governo. No ano passado, já como reflexo das manifestações populares de 2013, a diferença foi de apenas 1 ponto. Hoje, a confiança no governo é de 8 pontos maior do que na presidente: 30 a 22.  Toledo reproduz em sua coluna a avaliação da CEO do Ibope Inteligência, Marcia Cavallari, de que a diminuição da confiança nas instituições políticas como um todo tem como causa mais provável a recente sucessão de escândalos envolvendo políticos. Certamente esse é um fator de peso, de natureza ética, capaz de provocar a perda de confiança na chamada classe política – e, consequentemente, nas instituições que representam. Mas parece óbvio que na avaliação popular dos governantes predomina a percepção dos efeitos de seu desempenho no cotidiano do cidadão. É natural – numa conjuntura em que há meses não é divulgado um indicador econômico positivo e o governo se vê obrigado a adotar medidas impopulares para corrigir os próprios erros – que a população tenha cada vez menos confiança nos dirigentes que elegeu. Principalmente quando descobre que votou acreditando em promessas mentirosas. É óbvio que Dilma Rousseff já demonstrou acima de qualquer dúvida sua incompetência e despreparo para desempenhar o papel de “gerentona” afiançado por seu padrinho político. É um vexame que só tem precedente no aval dado por Paulo Maluf a seu candidato a suceder-lhe na Prefeitura de São Paulo, Celso Pitta: “Se ele não se tornar o melhor prefeito de São Paulo, nunca mais vote em mim!”. Lula não perde em caradurismo para seu aliado, mas com toda certeza está tão arrependido quanto Maluf por ter exagerado na dose. De qualquer modo, a responsabilidade pelo atual descrédito nos políticos não pode ser debitada exclusiva, nem mesmo principalmente, a Dilma Rousseff. Ela é responsável, sim, por ter levado para a Presidência da República a obstinação juvenil de intrometer o Estado, indevida e excessivamente, na vida dos indivíduos e por ter permitido que o poder lhe subisse à cabeça a ponto de jamais admitir os próprios erros. Mas Dilma é produto da insaciável ambição política de Lula e do projeto de poder por ele demagogicamente construído em cima do clamor por igualdade de oportunidades numa sociedade em que os contrastes sociais ainda são gritantes. Para se garantir no poder, Lula aliou-se ao que existe de pior na chamada classe política, oferecendo as benesses do aparelho estatal para o desfrute da turma dos amigos do alheio, reforçada pela adesão de petistas de escol. Gente em quem, definitivamente, não se pode confiar.