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A dura realidade

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Por Redação
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Na campanha eleitoral de 2014, dominada pelo clima de terror criado pelos marqueteiros petistas, a presidente Dilma Rousseff fez a solene promessa de ampliar os programas sociais caso fosse reeleita. Enquanto isso, os adversários de Dilma, ou melhor, os “inimigos do povo”, foram retratados como pérfidos liberais que, em nome da necessidade de um ajuste na economia, tomariam dos pobres não apenas os tais programas sociais, mas também o arroz e o feijão. Já no primeiro ano do novo mandato de Dilma, contudo, foi o governo “popular” que, diante da incontornável realidade do rombo nas contas públicas, teve de reduzir as verbas de oito dos nove principais programas sociais, conforme mostrou recente levantamento do Estado com base em dados do Orçamento.

Essa redução agrava a degradação do padrão de vida dos brasileiros mais pobres, justamente aqueles que desempataram a disputa eleitoral de 2014 em favor da petista porque acreditaram em suas promessas grandiosas. Com a inflação a carcomer sua parca renda e com o desemprego a assombrar seu futuro imediato, as famílias das classes mais baixas passaram a depender cada vez mais do auxílio proporcionado pelos programas sociais, que agora mínguam.

É claro que Dilma não reconheceu – e provavelmente jamais terá a grandeza de fazê-lo algum dia – que essa crise aguda foi manufaturada por seu incrível despreparo para o exercício da Presidência. Ela continua a apelar para o surrado estratagema de atribuir a necessidade de apertar o cinto – com o consequente sacrifício até mesmo dos sagrados programas sociais – à conjuntura internacional. Ao longo de 2015, nas raras vezes em que admitiu as barbeiragens que fez na economia, a petista atribuiu seus erros às alterações do cenário externo. “Levei vários sustos”, declarou a presidente, como se ela fosse uma cidadã comum, e não uma chefe de governo que dispõe de uma trintena de Ministérios, dezenas de secretarias e milhares de assessores comissionados para lhe fornecer as informações necessárias para não “levar sustos”.

O problema, porém, não é de desinformação. Afinal, muitos já tinham alguma ciência, desde 2013, de que a economia brasileira estava em pandarecos e de que as perspectivas eram sombrias. O problema é que Dilma, como os demais lulopetistas, é prisioneira de uma alucinação ideológica segundo a qual apenas o Estado dadivoso é capaz de acabar com a desigualdade socioeconômica e trazer desenvolvimento sustentado. Assim, mesmo dispondo das informações necessárias para saber que a gastança irrefletida um dia resultaria em desastre, Dilma preferiu ignorar a realidade, pois esta não correspondia às suas crenças.

O resultado disso é que a realidade acaba de atingir em cheio as fantasias voluntaristas de Dilma e de sua grei: vários programas sociais sofreram cortes significativos em 2015, cenário que deve se manter neste ano. Um exemplo é o Pronatec (programa de acesso ao ensino técnico), cujo orçamento para 2016 é 44% inferior ao de 2015. O Minha Casa, Minha Vida, esteio do Programa de Aceleração do Crescimento e menina dos olhos da presidente Dilma, perdeu 58% – e a petista já admitiu que não terá como cumprir as metas que anunciou na campanha.

Não bastassem os cortes, a inflação corroeu até mesmo os programas que tiveram aumento nominal de verbas. É o caso do Bolsa Família, que teve R$ 1 bilhão a mais em 2015, mas, graças à inflação, sofreu queda real de 4,7% em relação a 2014. O mesmo se deu com os programas Brasil Sorridente, Pronaf e Luz Para Todos. A maior perda no ano passado foi registrada no Brasil Carinhoso, voltado para crianças de famílias beneficiárias do Bolsa Família. O repasse nesse caso caiu 51%, já descontada a inflação.

Eis aí, sem retoques, o tamanho do estrago resultante da irresponsabilidade de Dilma. Mas essa mediocridade não é um destino. Se o Brasil enfim aprender, a partir da desastrosa experiência lulopetista, que um Estado balofo e perdulário é especialmente nefasto para os mais pobres – justamente aqueles que esse Estado diz proteger –, então o sacrifício não terá sido em vão.