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À espera das enchentes

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Por Redação
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A estação das chuvas chegou atrasada este ano a São Paulo, mas com estrondo. O temporal que caiu sobre a cidade na tarde do último domingo inundou e bloqueou ruas e avenidas, derrubou árvores, provocou apagões em vários bairros, queimou mais de 50 semáforos e deixou vários outros avariados, congestionou o trânsito por 150 km e só não prejudicou as eleições municipais porque ocorreu pouco antes do fechamento das urnas. Fosse dia útil, a situação seria caótica, o que não seria novidade para a população da cidade, habitualmente castigada por enchentes avassaladoras no verão. É tristemente irônico que, só na semana passada, a dois meses do fim do seu mandato, o prefeito Gilberto Kassab tenha lançado um pacote no valor de R$ 750 milhões para obras antienchentes para as zonas leste e sul, tendo como alvos principais a Bacia do Rio Aricanduva e a região do Córrego Zavuvus, apontados como os pontos mais críticos de cheias na cidade. Parte das obras estava prevista no Plano de Metas da Prefeitura e deveria ser entregue este ano, mas agora tudo ficou para 2016, se o prefeito eleito no último pleito, Fernando Haddad, resolver dar continuidade aos planos.Para muitos, o problema de enchentes em São Paulo é praticamente insolúvel, dada a impermeabilidade do solo, o assoreamento dos rios retificados, a ocupação desordenada de várzeas, o desmazelo crônico com a conservação de bocas de lobo, a escassez de parques ou zonas verdes que absorvam maior volume de água das chuvas, etc. As obras corretivas são muitas vezes prejudicadas pela descontinuidade administrativa, mas medidas podem e devem ser tomadas para evitar que o problema se agrave, como vem ocorrendo ano após ano. Nos últimos três verões, além dos elevados danos materiais, as fortes chuvas provocaram a morte de sete pessoas, seis delas no entorno do Córrego Zavuvus, em Americanópolis - o chamado "córrego da morte" -, além de deixar centenas de desabrigados.O edital publicado na semana passada pela Prefeitura paulistana prevê obras de contenção de enchentes, com a construção de piscinões e galerias pluviais, que devem fazer as vezes das várzeas hoje inexistentes, bem como a construção de conjuntos habitacionais e de nove parques lineares na Bacia do Aricanduva, ou seja, áreas verdes que devem acompanhar o curso do rio até as suas nascentes. Para que esses parques exerçam a dupla função de conter enchentes e proteger o meio ambiente, será necessário que a Prefeitura de São Paulo, em conjunto com outras prefeituras da região metropolitana, exerça uma fiscalização rigorosa para evitar que essas áreas sejam invadidas por barracos. Até agora, as autoridades municipais não foram capazes nem mesmo de proteger as regiões que circundam os importantes mananciais das Represas Billings e Guarapiranga.Seja como for, os trâmites burocráticos para o início das obras devem tomar tempo, mesmo que sejam objeto de entendimento entre Kassab e o prefeito eleito durante o período de transição entre as duas administrações. Estima-se que, se a ordem de serviço for emitida no começo de 2013, as obras poderiam ser concluídas em 36 meses, desde, é claro, que não faltem recursos ou que mudem as prioridades do governo - fatores que comumente paralisam obras do setor público. Quando afinal são concluídas, o atraso é de meses ou anos. É indispensável também um entendimento construtivo com o governo do Estado, responsável pelo Plano de Macrodrenagem da Bacia Hidrográfica do Alto Tietê, em andamento. Pelos cálculos preliminares de técnicos do governo estadual, a região metropolitana, que já conta com 53 piscinões, precisaria de mais 30 para acabar com as enchentes. Há técnicos, porém, que não acham que os piscinões, por si sós, possam resolver o problema. A questão das enchentes, em seu entender, está estreitamente ligada à coleta e disposição final do lixo, outro grande problema da região metropolitana.