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A greve dos professores

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Por Redação
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A primeira semana da greve decretada pela Apeoesp ? o Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo ? está mostrando que a categoria tem mais senso de responsabilidade do que suas lideranças. A paralisação foi justificada como protesto contra mudanças introduzidas pelo governador José Serra no magistério público. Mas, dos 215 mil docentes das 4,5 mil unidades da rede escolar paulista de ensino fundamental, só 1% teria cruzado o braço, segundo dados oficiais.Ligada à Central Única dos Trabalhadores (CUT) e agindo como um braço do PT, a Apeoesp contesta a informação do governo estadual, alegando que mais da metade do professorado teria aderido à greve. Mas, se isso fosse verdade, a entidade não teria recorrido ao surrado expediente de marcar "assembleias" no vão livre do MASP e fazer passeatas como a que na sexta-feira bloqueou a Avenida Paulista, descumprindo orientação da CET e prejudicando o trânsito na cidade. O bloqueio de artérias importantes por ativistas com bandeiras e faixas e o congestionamento por eles provocado destinam-se a passar a imagem de grande mobilização política. Mas isso não passa de encenação. Como as greves deflagradas pela Apeoesp têm tido uma adesão cada vez mais baixa por parte do professorado, os organizadores do "protesto" permitem que ele seja engrossado por estudantes, por integrantes de pequenas agremiações partidárias radicais, como o PSTU, e por membros de outras centrais sindicais, como o Conlutas.Com isso, os líderes da Apeoesp podem embalar em discursos políticos, que rendem boas imagens no noticiário da televisão e fotos nos jornais, reivindicações vagas ou absurdas, como "valorização da profissão", reajuste salarial de 34%, incorporação de gratificações, revogação da política de avaliação de desempenho e fim de concurso público para seleção de professores temporários. Na greve de junho do ano passado, que foi deflagrada com o objetivo de pressionar os deputados estaduais a rejeitar as mudanças propostas por Serra para o setor educacional, e que também não obteve mais do que 1% de adesão da categoria, a Apeoesp, além de bloquear ruas e avenidas, ameaçou invadir o prédio da Assembleia Legislativa. E, quando a Força Tática da Polícia Militar (PM) foi obrigada a intervir, para garantir a segurança pública, os líderes sindicais do professorado imediatamente se apresentaram como vítimas da "repressão" do governador. Essa estratégia, contudo, está ficando cara para a Apeoesp. Promotores da área de Urbanismo já solicitaram à CET e à PM relatórios sobre os prejuízos acarretados à cidade pelo "ato de protesto" dessa sexta-feira. Eles pretendem acionar judicialmente a entidade, obrigando-a a pagar indenização pelos danos causados. No ano passado, o Tribunal de Justiça de São Paulo (TJSP) condenou a Apeoesp a pagar R$ 1,2 milhão para o Fundo de Interesses Difusos por ter realizado em 2005 uma passeata em total desacordo com a legislação. A manifestação durou seis horas e, como sempre, bloqueou a região da Avenida Paulista, causando um congestionamento de 32 quilômetros numa área que abriga vários hospitais. O TJSP alegou que o exercício do direito de greve e da liberdade de manifestação de pensamento não pode desprezar o direito de terceiros. Por não ter depositado o valor da condenação, a Apeoesp teve seus imóveis penhorados. Entre 2008 e 2009, ela voltou a desrespeitar decisões judiciais que proibiam manifestações de protesto em vias públicas. Mesmo assim, não satisfeitos com os problemas causados sexta-feira, os líderes da entidade, mais uma vez desafiando a ordem jurídica, convocaram para a próxima sexta-feira outra "assembleia" na Avenida Paulista. Em suas manifestações, os líderes sindicais do professorado reclamam que o governo estadual não quer negociar a política do setor educacional. Mas que negociação seria possível com sindicalistas que, além de desprezar sistematicamente os direitos da coletividade, colocam os interesses partidários e corporativos à frente do interesse público?