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A indústria precisa de vitamina

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Por Redação
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A produção industrial cresceu 0,6% de abril para maio, mas seria muito arriscado falar de um começo de recuperação. Máquinas funcionam lentamente na maior parte das fábricas, muitos equipamentos estão parados e empresas continuam desmobilizando operários. O leve aumento da produção em maio, um raro dado positivo num país em crise, foi avaliado com cautela pela maioria dos analistas. Para começar, a aparente reação pode ter sido apenas um suspiro, ou, como disseram alguns, um soluço. A produção havia caído 1,3% em fevereiro, 0,8% em março e 1,2% em abril.

Continuou em nível muito baixo, portanto, inferior ao do início do ano e 8,8% abaixo do registrado no mesmo mês de 2014. A variação acumulada em 12 meses foi uma queda de 5,3%. Nos cinco primeiros meses de 2015, o resultado foi 6,9% menor que o de janeiro a maio do ano passado.

Apesar do último dado, é cedo para falar de uma reversão da tendência, comentou o economista André Macedo, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), ao apresentar os novos números. Os grandes problemas conjunturais, como a baixa confiança de empresários e consumidores, seguem afetando o setor produtivo, argumentou.

Com a mesma cautela foram apresentados os últimos números coletados pela Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) e pela Confederação Nacional da Indústria (CNI). O índice de atividade da indústria paulista subiu 1,2% de abril para maio. A alta é explicável pela base de comparação muito baixa, observou o diretor do Departamento de Pesquisas e Estudos Econômicos da entidade, Paulo Francini. Mesmo com a alta, o indicador ficou 7,7% abaixo do nível de maio do ano anterior.

Em cinco meses o número acumulado foi 3,6% inferior ao de igual período de 2014. Mesmo em 2009, ainda sob o efeito da crise iniciada no ano anterior, a variação de abril para maio foi maior que a deste ano, lembrou Francini. “Nossa perspectiva para o ano mantém-se muito ruim, com aprofundamento da crise no segundo semestre”, acrescentou. Em 2014, a atividade cairá pelo menos 5%, segundo projeção dos técnicos da Fiesp.

A pesquisa mensal da CNI apurou pelo menos um dado positivo. O faturamento de maio foi 1,6% maior que o de abril, descontada a inflação. Mas todos os demais grandes indicadores componentes do cenário foram para baixo. Houve redução de 0,5% nas horas de trabalho na produção, de 0,4 ponto porcentual no uso da capacidade instalada, de 0,9% no emprego, de 1,2% na massa real de salários e de 0,3% no rendimento médio real dos trabalhadores. A menor utilização da capacidade e a redução do tempo de trabalho deixam pouca ou nenhuma dúvida quanto ao ritmo da produção. O levantamento da CNI, como o da Fiesp, cobre somente a indústria de transformação.

Diferenças de cobertura e de metodologia explicam algumas disparidades entre os dados do IBGE e os das entidades da indústria. Mas os quadros coincidem nas grandes linhas e fundamentam as previsões de muita dificuldade neste semestre e em boa parte do próximo ano.

Um dado essencial para qualquer avaliação de perspectivas é o nível do investimento produtivo. A fabricação de bens de capital, isto é, de máquinas e equipamentos, aumentou 0,2% de abril para maio, mas nesse caso a explicação do soluço parece ainda mais clara do que em relação a todo o resto.

A produção desses bens diminuiu 15,8% em 12 meses. De janeiro a maio, foi 20,6% menor que a dos cinco primeiros meses de 2014. Em maio, foi 26,3% inferior à de um ano antes. Além disso, de janeiro a junho as empresas brasileiras gastaram 15,8% menos que em igual período do ano anterior com a importação de máquinas e equipamentos. Os gastos com bens de capital já haviam diminuído em anos anteriores.

Pouco se cuidou, portanto, de elevar a capacidade produtiva da economia brasileira. Isto vale também para os projetos de governo. Por isso, e também pelo fraco preparo da mão de obra, o potencial de crescimento é muito baixo. Isso é parte da grande façanha petista, assim como o desastre das contas públicas e a explosão dos preços.