Imagem ex-librisOpinião do Estadão

A inflação e a dívida pública

Exclusivo para assinantes
Por Redação
2 min de leitura

Além de encarecer a vida dos brasileiros, a inflação pressiona também o custo da dívida pública e prejudica a saúde financeira do governo. Nos 12 meses terminados em abril, o custo médio da dívida pública federal (DPF) subiu de 11,46% ao ano para 11,52%, segundo informou o Tesouro Nacional. O custo médio da dívida pública federal interna (DPFi) também aumentou, passando de 11,03% para 11,13% ao ano. A dívida ficou mais cara porque cresceu a participação de títulos corrigidos pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) e pela Selic, a taxa básica de juros. Essa taxa voltou a subir em abril do ano passado, quando os dirigentes do Banco Central (BC) decidiram intensificar o combate à alta de preços. Os investidores em papéis do governo tiveram um duplo estímulo para mudar suas preferências: tentaram defender-se da onda inflacionária e, ao mesmo tempo, aproveitar a remuneração maior oferecida pelos títulos vinculados à Selic.A taxa básica foi elevada em 9 ocasiões nos últimos 12 meses, mas a inflação continua bem acima da meta, de 4,5% ao ano, e resistente. Os índices de preços têm subido mais lentamente nas últimas semanas. Ao mesmo tempo, vêm-se multiplicando os sinais de enfraquecimento da economia.A demanda dos consumidores arrefeceu, o emprego tem crescido mais devagar e os indicadores de confiança dos empresários de vários setores pioraram. Diante desses sinais, analistas do setor financeiro passaram a apostar numa interrupção da alta de juros. Ainda hoje, no começo da noite, o Copom deverá anunciar uma nova decisão sobre os juros. Segundo a maior parte das previsões, os formuladores da política monetária deverão no mínimo iniciar uma pausa para avaliar os efeitos do aperto adotado nos últimos 12 meses.Se essa aposta estiver correta, o Copom atenderá aos principais porta-vozes do empresariado, críticos habituais dos aumentos de juros. Esses empresários normalmente se mostram muito mais preocupados com o custo dos financiamentos do que com a alta de preços, mesmo quando a inflação dispara e se distancia muito da meta, como ocorreu várias vezes nos últimos quatro ou cinco anos. A decisão apaziguadora também será provavelmente bem vista pelos ministros econômicos e pela presidente Dilma Rousseff, empenhada na busca da reeleição e na conquista da simpatia dos líderes empresariais.Se o Copom de fato interromper a alta da Selic, terá poucos meses para avaliar se o aperto iniciado há um ano de fato foi suficiente para frear a inflação. Pelas projeções correntes no mercado financeiro, a variação do IPCA deverá ser mais suave até julho ou agosto e em seguida ganhar novamente impulso. Na melhor hipótese, os preços continuarão subindo mais lentamente por um período mais longo e a inflação acumulada no fim do ano ficará abaixo de 6%. As projeções conhecidas até agora serão desmentidas e a política monetária poderá continuar mais frouxa do que nos últimos meses.Mas nada garante, por enquanto, esse bom resultado. Os consumidores estão mais cautelosos, neste momento, mas o desajuste entre a demanda total e a oferta no mercado interno dificilmente será superado a curto prazo. A indústria continua estagnada e o investimento privado será provavelmente insuficiente, nos próximos meses, para mudar o quadro. Além disso, a gastança pública prossegue e o governo permanece dependente de receitas extraordinárias para alcançar a meta fiscal fixada para o ano. Além disso, o governo já se comprometeu com novo aumento do salário mínimo e, além disso, a adoção de qualquer medida de austeridade, durante a campanha, será uma enorme surpresa.De toda forma, sobrou uma notícia boa no relatório divulgado ontem pelo Tesouro. Entre dezembro e abril a dívida pública federal diminuiu 3,31%, de R$ 2,122 trilhões para R$ 2,052 trilhões. Só em abril o Tesouro resgatou um total de R$ 47,06 bilhões. Novas boas notícias poderão surgir, nos próximos meses, se a inflação recuar e o custo da dívida diminuir. Mas, por enquanto, essa expectativa parece otimista demais.