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A inflação está servida

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Por Redação
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O custo da alimentação assusta o consumidor e impõe ao governo um duro desafio a poucos meses das eleições. Os últimos números da inflação, facilmente verificáveis na feira e nos supermercados, confirmam o alerta lançado nesta semana pelo presidente do Banco Central (BC), Alexandre Tombini, e já levaram o novo ministro da Agricultura, Neri Geller, a prometer medidas para conter a alta de preços. Um primeiro passo poderá ser a venda de milho para reequilibrar alguns mercados, a começar pelo Nordeste. O assunto está na pauta da reunião de terça-feira do Conselho Interministerial de Estoques Públicos de Alimentos (Ciep). Os problemas de suprimento são, em parte, atribuíveis ao tempo irregular - seca em algumas áreas, excesso de chuva em outras - e, em parte, às condições do mercado internacional. A produção de milho estimada para este ano, 75,18 milhões de toneladas, segundo a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), deve ser 7,8% menor que a do ano passado. A área plantada diminuiu, e, além disso, houve perdas causadas pela estiagem. O Ministério da Agricultura tem estoques para intervir no mercado, nesse caso, mas está muito menos preparado para aumentar a oferta de outros produtos. De toda forma, qualquer intervenção envolverá um teste duplo. O governo terá de escolher corretamente os canais de distribuição, para garantir a chegada do produto ao destino correto. Mas deverá, ao mesmo tempo, dosar a intervenção para evitar perdas para os produtores. Erros desse tipo foram cometidos em ocasiões semelhantes. A tentação de jogar pesado para derrubar os preços pode ser muito forte, quando há motivação eleitoral.A intervenção nos mercados de outros produtos poderá ser muito mais difícil ou simplesmente inviável. Entre o meio de fevereiro e o meio de março, o custo da alimentação subiu 1,11%. Essa alta foi o principal determinante da elevação de 0,73% do IPCA-15, a prévia do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA).Mas o governo dificilmente poderá fazer alguma coisa para ampliar a oferta de alguns dos produtos com as maiores altas de preços, como o tomate (28,53%), a batata inglesa (14,59%) e a alface (16,49%). Não há estoques públicos desses produtos.No caso dos hortícolas, pode-se produzir uma nova safra e ajustar a oferta em pouco tempo. Mas um aumento temporário e até reversível pode produzir efeitos duradouros, se houver contágio dos demais preços, especialmente numa economia com elevado grau de indexação. A ação direta do Ministério da Agricultura, quando bem planejada e bem conduzida, pode reforçar a oferta e melhorar as condições do mercado, mas é insuficiente para prevenir o repasse dos aumentos e a contaminação dos demais preços, incluído, naturalmente, o salário.Daí a importância da ação prescrita pelo presidente do BC: caberá à política monetária circunscrever ao curto prazo a alta de preços dos alimentos e, assim, prevenir a propagação de seus efeitos. Apresentado em depoimento à Comissão de Assuntos Econômicos do Senado, nesta semana, esse comentário parece indicar um movimento de alta de juros mais longo do que vinha prevendo o mercado financeiro. Pode ser uma notícia desagradável para muitos empresários, mas a função primordial do BC é defender o poder de compra da moeda. No caso do Brasil, a alta de preços dos alimentos é especialmente perigosa por causa de outros fatores inflacionários, como o excesso de gastos do governo e o crédito ainda em expansão. Em outros países, o aumento de custos da alimentação produz efeitos muito menos danosos. Não há como negar esses fatos.Mas, segundo o PT, "parcela da mídia brasileira faz questão de pintar um quadro aterrorizador da economia, disseminando maus presságios sem fundamentos técnicos, apenas com a clara intenção de tentar influenciar nas disputas eleitorais". De acordo com essa nota, aprovada em reunião partidária, "chega a ser impressionante" a distância entre o Brasil pintado pela mídia e o país governado pelo PT. Talvez no país do PT os dados de inflação sejam melhores e o presidente do BC se mostre menos preocupado.