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A inflação no radar do cidadão

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Por Redação
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A inflação dos últimos 12 meses continua acima de 9%, tem recuado e deve fechar o ano em 6,98%, segundo as últimas projeções do mercado. Para 2017 os cálculos apontam 5,80%, um número ainda bem acima da meta de 4,50%, mas muito menos doloroso que o de dois anos antes. A recessão funda e prolongada, os juros altos e a menor pressão dos preços administrados, como os da energia elétrica, devem contribuir para resultados melhores que o de 2015, quando os preços no varejo subiram mais de 10,67% pela medida oficial, o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), ou 10,53% de acordo com a Fundação Getúlio Vargas (FGV). Quanto aos próprios consumidores, continuam bem menos otimistas, embora também estimem algum alívio. A mediana de sua expectativa para os próximos 12 meses é uma inflação de 10,70%, segundo a sondagem mensal da FGV. No mês passado as apostas ainda apontavam 11,1%. Não é difícil entender a ampla diferença entre as previsões dos técnicos e as expectativas das chamadas “pessoas comuns”. Economistas profissionais incorporam as novas informações a modelos complexos, apertam botões e anotam resultados. Se os números parecerem muito estranhos, podem rever seus procedimentos e verificar se todos os passos foram dados de acordo com os padrões tecnicamente aceitos. As “pessoas comuns” têm outras ocupações e registram as novidades de acordo com sua experiência e, naturalmente, com sua sensibilidade – ou a sensibilidade de seus bolsos. Com a inflação acumulada ainda muito alta, leva-se mais tempo para registrar e absorver qualquer tendência de melhora. No último ano boa parte dos salários foi reajustada abaixo da variação dos preços acumulada em 12 meses. Além disso, a inflação passada continua infernizando o dia a dia das famílias, por causa dos aumentos de aluguéis e de outros preços indexados. Os preços poderão de fato subir menos de 9% nos próximos 12 meses, mas nesse período muitas famílias pagarão 9% ou 10% a mais que no ano anterior para continuar vivendo sob um teto. Quando a inflação se acelerou fortemente, no ano passado, as expectativas dos consumidores também mudaram mais velozmente que os indicadores e as projeções dos técnicos. Em agosto de 2015 os consumidores entrevistados na sondagem da FGV já previam uma inflação de 10% nos 12 meses seguintes. A taxa de 10% em 12 meses, de acordo com o indicador de preços ao consumidor da própria Fundação, só foi alcançada em outubro. O pico foi atingido em janeiro de 2016, com uma taxa acumulada de 10,59%. Em março o número voltou pela primeira vez a ficar abaixo de 10%, com a alta registrada de 9,37%. Embora a mediana das expectativas tenha baixado de 11,10% em março para 10,70% em abril, seria arriscado falar de uma efetiva mudança de humor dos consumidores. Em todas as classes de renda as expectativas diminuíram, mas o grupo de renda mais baixa (até R$ 2.100 mensais), compreensivelmente, mantém a pior previsão: 11,20% de aumento de preços nos próximos 12 meses. A expectativa mais favorável é a do grupo com ganhos acima de R$ 9.600 mensais: 10,1%. Em nenhuma faixa se aposta numa evolução de preços muito melhor que a experimentada nos últimos seis meses. O ceticismo dos consumidores quanto às possibilidades de uma forte contenção da alta de preços, nos próximos 12 meses, fica ainda mais claro quando se examina a frequência dos números citados. Menos de 10% dos entrevistados preveem uma inflação de até 7% nesse período. Ou seja, menos de 10% partilham das expectativas dos economistas do mercado. Apenas 10,1% estimam um resultado na faixa de 7% a 8%. Para 80,2% a alta de preços ficará de 8% para cima e para 50,3% ultrapassará 10%. Expectativas também são relevantes para a evolução dos preços. Os dirigentes do Banco Central sabem disso e deverão – espera-se – levar em conta esse fator nas próximas decisões de política monetária. O pessimismo dos consumidores também é parte da realidade.