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A Itália é a bola da vez

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Por Redação
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A crise da dívida chegou à Itália, derrubou as ações dos maiores bancos do país, arrastou para baixo as bolsas europeias e causou estragos em vários outros mercados de capitais em todo o mundo, incluído o brasileiro. Terceira maior economia da zona do euro e uma das sete maiores do mundo capitalista, a Itália tem uma dívida pública superior a 120% do Produto Interno Bruto (PIB). Na Europa, essa dívida só é menor, proporcionalmente, que a da Grécia (acima de 150% do PIB). A especulação com papéis italianos, intensa desde a semana passada, causou estragos imediatos nas cotações dos títulos públicos de Portugal, Irlanda e Grécia, países já dependentes de programas de ajuda. A Espanha, uma das economias mais próximas da zona de perigo, também foi mais uma vez atingida pela turbulência. Se a Itália for empurrada para o buraco, a crise mudará de patamar e o mundo estará diante de um problema de proporções incomuns: como resgatar uma economia desse tamanho? Autoridades da União Europeia reuniram-se nessa segunda-feira em Bruxelas para discutir a situação da Grécia e também a onda de especulação contra a economia italiana. Ministros de Finanças do bloco devem continuar hoje as discussões. O comentário mais otimista sobre a Itália foi feito no domingo pelo respeitado economista Mohamed El-Erian, executivo principal da maior empresa gestora de investimentos em renda fixa do mundo, a Pacific Investment Management Co. (Pimco): a dívida italiana tem um perfil muito menos preocupante que a dos países já em crise e, além disso, a Itália é uma economia muito maior e mais flexível. No mesmo comentário, no entanto, ele advertiu: é bom ficar de olho na Itália. O desentendimento entre o ministro das Finanças italiano, Giulio Tremonti, e o primeiro-ministro Silvio Berlusconi, na semana passada, contribuiu para acender um sinal de alerta. Contra Berlusconi e outros membros do Gabinete, o ministro das Finanças defende um orçamento mais apertado. "Se eu cair", teria dito Tremonti, citado pela imprensa italiana, "a Itália cairá. Se a Itália cair, cairá também o euro. É uma cadeia." A chanceler Angela Merkel, chefe de governo da maior economia da Europa, telefonou a Berlusconi para pedir uma ação tranquilizadora. Segundo ela, a Itália enviará um "sinal muito importante", se for aprovado um orçamento com medidas para consolidar a situação fiscal. Enquanto os especuladores centravam o foco na dívida italiana, novos números divulgados na segunda-feira mostravam a piora da situação fiscal da Grécia. No primeiro semestre o déficit do governo central foi 27,9% maior que o de um ano antes. Ficam fora dessa conta os orçamentos dos governos locais e da Previdência, além dos gastos com as Forças Armadas. De toda forma, o Parlamento grego já aprovou as novas medidas de austeridade cobradas pela União Europeia e pelo Fundo Monetário Internacional e isso permitiu a liberação de mais uma parcela da ajuda negociada no ano passado. A piora das contas gregas é explicável, em boa parte, pelo agravamento da crise econômica e pela consequente redução da receita de impostos. Essa verificação realimenta o debate sobre a correção da política de ajuste adotada na Grécia. Discussão semelhante ocorre nos Estados Unidos - e envolvendo valores imensamente maiores. O presidente Barack Obama continua negociando a elevação do teto da dívida pública, atualmente calculada em US$ 14,3 trilhões. A oposição republicana condiciona qualquer acordo a um corte severo e imediato do orçamento. Segundo os democratas, a redução de gastos necessária para compensar a manutenção do limite da dívida será desastrosa e jogará o país numa recessão profunda. Mas a elevação do teto será apenas parte da solução. Sem mais impostos cobrados "de quem pode pagar", o ajuste orçamentário imporá um enorme sacrifício à maior parte da população, advertiu Obama. É preciso, portanto, planejar uma arrumação fiscal de longo prazo e compatível, agora, com a recuperação da economia. O mesmo argumento não valerá, com a devida adaptação, para os endividados da Europa?