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A longa greve

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Por Redação
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Das 63 universidades federais, 50 completaram 80 dias de greve, em protesto contra os cortes na previsão orçamentária de 2015 determinados pelo Ministério da Fazenda. Além de reclamar da desvalorização do “caráter público das instituições federais de ensino superior”, professores e servidores também reivindicam a reestruturação da carreira.

E ainda afirmam que, se não obtiverem um reajuste salarial de 27%, não retomarão as aulas e paralisarão pesquisas científicas em andamento.

Na maioria das federais, o calendário acadêmico está suspenso, sem previsão de retomada das atividades. Alguns cursos nem sequer foram iniciados e várias instituições não estão conseguindo matricular alunos em tempo hábil.

Como os grevistas desligaram os computadores, as matrículas estão sendo processadas manualmente, o que prejudica os estudantes aprovados pelo Sistema de Seleção Unificada do segundo semestre. A suspensão das atividades também já atingiu os cursos de ensino básico vinculados aos Colégios de Aplicação dessas instituições.

Em sucessivas notas oficiais, o Ministério da Educação tem alegado que os sindicatos de professores e servidores deflagraram a greve sem conversar com as autoridades educacionais. Também tem afirmado que, apesar do ajuste fiscal, “os programas e ações estruturantes das universidades federais foram preservados”. As entidades de docentes e servidores refutam esses argumentos, alegando que as autoridades educacionais se recusam a receber os líderes dos grevistas.

As greves nas universidades federais se tornaram tão rotineiras que a imprensa hoje dedica pouco espaço para noticiá-las. Na atual paralisação, a única novidade é o surgimento de protestos formulados por alguns professores contra a banalização da greve como forma de protesto. Um desses docentes é Daniel Aarão Reis. Titular de história da Universidade Federal Fluminense e ex-presidente do PT no Estado do Rio de Janeiro, há três meses ele concedeu entrevistas nas quais afirmou que as assembleias de professores e servidores carecem de legitimidade e que os comandos de greve não representam a comunidade acadêmica. “A greve só nos prejudica. O maior trunfo da universidade pública é a troca de ideias. Uma instituição atuante pode interromper as atividades durante um dia para fazer uma passeata com muito mais força do que quando está em greve por tempo indeterminado”, disse ele.

Na semana passada, outro docente – Giuseppe Tosi, titular de filosofia da Universidade Federal da Paraíba – distribuiu nas redes sociais um protesto no mesmo sentido. “Por que, neste momento em que o País vive uma recessão econômica e uma crise política, as federais estão paradas? Não deveriam estar abertas e ativas, debatendo o desenvolvimento do País? Ou estamos reconhecendo publicamente nossa insignificância e irrelevância? Onde está nosso espírito republicano? Em lugar das greves, o que deveríamos fazer é abrir um debate com a sociedade e o governo sobre o tipo de universidade pública que queremos. É fazer com que o ciclo vicioso grevista e a mentalidade corporativista se tornem página virada de nossa história, para abrir um ciclo virtuoso fundado na excelência acadêmica, a fim de que a universidade pública se converta na alavanca da cidadania”, afirmou.

As duas declarações causaram grande polêmica nos meios acadêmicos. Independentemente das críticas que têm recebido dos colegas grevistas, a verdade é que os professores Aarão e Tosi foram felizes e corajosos ao cobrar maior responsabilidade de seus pares. De fato, o grevismo universitário converteu-se na doença infantil do sindicalismo docente que surgiu no final da ditadura. No atual panorama político e econômico do País, que importância tem a greve de categorias que só querem mais benefícios e regalias, recusando qualquer diálogo sobre eficiência, ganhos de produtividade e avaliação de desempenho?