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A outra volta da gangorra

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Por Redação
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A que deve ser a penúltima rodada das pesquisas de maior repercussão para as eleições de domingo, publicadas ontem, leva a crer que só quando forem contados os votos se terá as respostas para as duas principais questões desta fase derradeira da campanha, cujo símbolo bem poderia ser uma gangorra, tantos os seus vaivéns - principalmente desde o acidente aéreo de 13 de agosto que levou a ex-ministra Marina Silva a irromper na cena eleitoral no lugar do falecido Eduardo Campos, de quem era vice na chapa do PSB. As dúvidas da hora que desafiam políticos, marqueteiros, jornalistas e observadores de toda sorte são, pelo menos, fáceis de formular. A primeira: se houver segundo turno, quem será o adversário de Dilma? A outra: haverá segundo turno?Antes da tragédia do Boqueirão, em Santos, onde caiu o jatinho que transportava o ex-governador de Pernambuco, à época detentor de modestos 10% das intenções de voto apuradas nos levantamentos, ninguém deixaria de apostar o seu último centavo na ida do tucano Aécio Neves para o tira-teima com a petista em busca da reeleição. Embora em nenhum momento o senador mineiro tivesse a exibir um opulento embornal de votos potenciais, o cenário mais provável era de que arregimentaria notas suficientes para "passar de ano", com o que o turno decisivo não seria apenas um plebiscito convencional sobre continuidade ou mudança, mas um embate entre petismo e antipetismo, como tem sido desde 1994. "A velha política", diria Marina.O advento da sua candidatura pôs esse cenário de ponta-cabeça: ela não só parecia ter remetido Aécio para o limbo da irrelevância, como ainda surgia nas vestes de futura presidente: na virada de agosto para setembro, tanto o Ibope como o Datafolha lhe davam sete pontos de vantagem sobre Dilma no mata-mata. Nada mais esperado, portanto, que os rivais a elegessem como alvo preferencial de seus ataques. Despreparada, destituída de condições para governar, candidata dos banqueiros, indiferente ao pré-sal e reticente sobre os programas sociais do PT - e, paradoxalmente, petista que perdeu o pelo, mas não perdeu o vício - foram as rajadas mais contundentes lançadas contra ela para, conforme o eufemismo da temporada, "desconstruir" a sua imagem. No centro do fogo cruzado, deu uma contribuição depois da outra para a erosão de sua confortável liderança nas pesquisas.O primeiro tiro no pé foi a imediata retirada do seu programa, por pressão de um popular televangelista, da defesa do casamento gay e da criminalização da homofobia. Depois, ela foi pilhada pelo menos duas vezes reescrevendo sua biografia: primeiro, ao negar que tenha sido contra os transgênicos, propondo apenas a sua segregação dos cultivos convencionais; segundo, ao afirmar que, senadora, votara a favor da CPMF, o imposto do cheque. Em menos tempo do que levou para Dilma acusá-la de "desvio de caráter", apurou-se, preto no branco, que Marina chegara a invocar a Bíblia para execrar os transgênicos por princípio e votara quatro vezes contra a CPMF. O problema nem é de mérito: ela estava errada em relação à biotecnologia e certa quanto ao imposto. O que não poderia era adaptar o passado às conveniências eleitorais do presente.As investidas dos adversários e o desgaste da sua credibilidade numa campanha cuja duração jogou contra ela criaram as condições para a liquefação de seu prestígio. Em setembro, enquanto Dilma e Aécio recuperavam terreno, Marina perdeu quase 10 pontos. Eleitores apartados do tucano voltaram ao ninho graças à insistente exposição do passado petista da professada guardiã da ética, que não deu um pio contra o mensalão protagonizado por seus companheiros. O resultado é que, com o vento contra, ela terá de correr para ficar onde está - cinco pontos apenas à frente de Aécio. As guinadas na montanha-russa das sondagens parecem ter produzido outra consequência: a reeleição de Dilma no primeiro turno, que parecia ter ido parar na lata de lixo das certezas caídas em desgraça, voltou a ser, se não provável, possível, com o estreitamento da diferença entre as intenções de voto na presidente (da ordem de 40%) e em todos os outros candidatos (48%). Em quatro dias se saberá.