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A promessa do Japão

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Por Redação
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A economia mundial ganhará um novo e poderoso motor nos próximos anos, se a terceira maior potência, o Japão, se livrar da deflação crônica e recobrar pelo menos em parte o velho dinamismo, como promete o primeiro-ministro Shinzo Abe. As projeções, por enquanto, são pouco entusiasmantes. A economia japonesa deve crescer 1,7% neste ano, repetindo o desempenho de 2013, e avançar apenas 1% em 2015, segundo o novo cenário divulgado no começo da semana pelo FMI. Mas o primeiro-ministro continua apostando em seu plano de recuperação e reformas, lançado no fim de 2012 e conhecido como "abenomics". No Japão, as pessoas estão mais otimistas e mais vibrantes, disse Shinzo Abe em Davos, perante uma grande plateia de políticos, economistas, empresários e - mais importante - de investidores internacionais.Voltou a falar nas "três flechas" de seu programa de reativação econômica. A primeira é a política monetária expansionista, destinada a irrigar a economia com mais dinheiro e levar a inflação, muito baixa e até negativa durante longo tempo, à meta de 2%. A segunda é um conjunto de estímulos fiscais para investimentos em infraestrutura, pesquisa tecnológica e geração de empregos. A terceira inclui uma ampla desregulação dos mercados e a adesão à Parceria Transpacífica. Já houve sinais de inflação e desvalorização cambial no ano passado, mas o próprio Banco do Japão pôs em dúvida a eficácia, até o momento, da política monetária expansionista. A inflação de 2013 pode ter sido alimentada pelos custos da energia importada. O impulso inflacionário depende em boa parte, pode-se especular, de uma disposição maior dos japoneses para gastar. A expansão do consumo é um dos passos previstos no plano do primeiro-ministro. Para isso o governo oferece estímulos à contratação de empregados. A decisão, disse Shinzo Abe, dependerá, naturalmente, da disposição das empresas. Não cabe às autoridades forçar as contratações. Mas o plano vai além da mera concessão de benefícios para estimular a elevação do emprego e dos salários. Inclui a valorização da mão de obra feminina e a ampliação de oportunidades profissionais para as mulheres. A "abenomics" tem sido descrita como uma estratégia de inspiração keynesiana - um conjunto de medidas fiscais e monetárias de curto prazo para estimular o uso mais intenso da capacidade produtiva, elevar o nível de emprego e reanimar a economia estagnada. Mas o plano é mais ambicioso, porque envolve reformas de longo alcance.Não se trata apenas de remover obstáculos conjunturais, mas de mexer na organização dos mercados, de estimular a produção de tecnologia, de mudar políticas sociais e até de provocar mudanças comportamentais. Outros planos de reativação econômica foram experimentados por outros governantes, mas nenhum resultou em melhora significativa. A estagnação iniciada nos anos 90, depois do estouro da bolha imobiliária e de crédito, continuou marcando a economia japonesa nas duas últimas décadas. A deflação tem sido uma das marcas dessa economia.Durante esse período a China cresceu aceleradamente, em ritmo próximo de 10% ao ano, e tomou do Japão o posto de segunda maior economia do mundo, pelo volume anual de produção. Mas o Japão continua uma sociedade muito mais rica, socialmente avançada e solidamente estabelecida como criadora de tecnologia, apesar dos avanços chineses. Retomar o posto de segunda maior economia está longe dos planos de Shinzo Abe. No campo econômico, seus alvos são muito mais modestos, embora importantes para o Japão e para a maior parte do mundo. Mas o governo japonês tem de cuidar ao mesmo tempo dos problemas econômicos e de novos desafios políticos, incluída a disputa com a China pelo domínio das Ilhas Senkaku (ou Diaoyu). O discurso dos dois lados envolve até referências à ação militar. A disputa é uma complicação a mais para a administração japonesa, já atolada em problemas econômicos.