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A proteção do rebanho

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Por Redação
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Depois das perdas desastrosas provocadas pelo forte surto de febre aftosa ocorrido em Mato Grosso do Sul, em 2005, que colocou sob suspeita toda a exportação brasileira de carne bovina, o governo aprendeu a amarga lição. Com a confirmação há pouco de que focos de aftosa foram detectados no departamento de San Pedro, no Paraguai, a 130 km da fronteira com o Brasil, o governo federal reagiu prontamente para evitar o alastramento da doença. O Ministério da Agricultura soou o alerta, suspendendo provisoriamente a importação de carne in natura e de animais vivos do Paraguai. O mesmo fizeram os governos da Argentina e do Uruguai. O Ministério anunciou também que está aumentando o número de fiscais na área de fronteira com o Paraguai, tendo determinado a colocação de barreiras volantes na região, além de identificar as propriedades mais sujeitas a risco no território nacional. O Estado de Mato Grosso do Sul, por sua vez, proibiu o trânsito de animais de um lado para o outro da fronteira. As Forças Armadas colaborarão ativamente no trabalho de defesa sanitária.Esses cuidados são necessários, mas não são suficientes. A aftosa é altamente transmissível e cumpre ao governo brasileiro colaborar estreitamente com o governo paraguaio. Afinal, enquanto existirem focos de doença naquele país, o rebanho brasileiro estará ameaçado. Nesse sentido, um técnico do Ministério da Agricultura já seguiu para o Paraguai, onde trabalhará em conjunto com técnicos daquele país, da Argentina, da Bolívia e do Chile. A inspeção será acompanhada pela Comissão Sul-Americana para a Luta Contra a Febre Aftosa, formada por 11 países do continente, que colocou a sua estrutura de serviços veterinários à disposição das autoridades paraguaias.As preocupações são plenamente justificáveis. Graças a um trabalho sistemático de vacinação do gado, 12 Estados brasileiros foram reconhecidos pela Organização Mundial de Saúde Animal (OIE) como áreas livres de aftosa. Em Estados do Norte e do Nordeste, a vacinação abrange apenas parte do rebanho, mas campanhas prosseguem, sendo a meta do governo erradicar a doença em todo o País até 2013.Mato Grosso do Sul foi o último dos principais Estados produtores de carne bovina a ser reconhecido, em fevereiro passado, como área livre de aftosa, depois de um grande esforço de vacinação e controle por parte do governo estadual ao longo de 700 km de fronteira com o Paraguai. O Estado havia sido atingido em cheio pelo surto de febre aftosa de 2005. Para controlar o surto, foram sacrificadas 34,3 mil cabeças de gado, em 1.268 propriedades. Para a economia de alguns municípios mais afetados, isso significou um forte abalo.O governo de Santa Catarina, por sua vez, ergueu barreiras sanitárias na divisa com o Paraná e na fronteira com a Argentina para proteger, principalmente, o seu rebanho suíno. O objetivo é preservar a sua condição de único Estado brasileiro reconhecido pela OIE como livre de aftosa sem vacinação, obtida graças a uma vigilância sanitária rigorosa e de alto padrão. A pecuária brasileira é das mais avançadas do mundo. O controle sanitário, especialmente a prevenção da aftosa, não pode, portanto, ser relaxado. Os custos da desídia são muito altos para o Brasil. Apesar da fiscalização feita pelas Secretarias da Agricultura dos Estados, que exigem dos pecuaristas notas fiscais que atestem a compra de vacinas, às vezes elas não são aplicadas ou, quando o são, não obedecem aos prazos recomendados ou às condições de conservação ou refrigeração adequadas. O essencial é que seja mantida a credibilidade do País como exportador de carne. Casos de aftosa em uma grande região produtora agravariam as desconfianças dos importadores quanto à sanidade da pecuária nacional, afetando diretamente as vendas externas, que já estão sujeitas a outras restrições. Apesar de estarem praticamente estagnadas, por causa, principalmente, da baixa oferta de animais para abate, as exportações brasileiras de carne são significativas, tendo alcançado US$ 2,660 bilhões de janeiro a agosto deste ano.