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A queda livre das operações de crédito

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Por Redação
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Ao divulgar os dados da política monetária e de crédito de fevereiro, o chefe do Departamento Econômico do Banco Central (BC), Túlio Maciel, previu que o saldo de financiamentos deverá crescer apenas 5% neste ano – abaixo da inflação, portanto. No primeiro bimestre, o saldo diminuiu 1,1%, de R$ 3,219 trilhões para R$ 3,184 trilhões. As concessões – ou novos empréstimos – caíram 8,1% no ano. Desses dados se infere que não há perspectiva de o crédito voltar a aquecer a economia como quer o governo, porque empresas e pessoas físicas não têm confiança na recuperação e evitam endividar-se

A relação entre crédito imobiliário e PIB caiu 0,4 ponto porcentual entre janeiro e fevereiro, para 53,6% (o pico foi de 54,5%, em dezembro). Indicadores do BC explicam por que o crédito se deteriora, a começar dos juros altos. Estes aumentaram no conjunto de operações 6,1 pontos porcentuais (de 25,7% ao ano para 31,8% ao ano) em 12 meses, chegando à média de 50,6% ao ano no crédito com recursos livres.

Pessoas físicas já às voltas com perda de renda real e risco de desemprego pagaram em média 68% ao ano de juros em fevereiro, acréscimo de 13,7 pontos porcentuais em 12 meses. Nas linhas mais caras, o juro chegou a 293,9% ao ano no cheque especial e a 447,5% ao ano no parcelado do cartão de crédito – 104,8 pontos porcentuais mais em 12 meses.

O spread total nas operações (diferença entre o custo de captação e o custo de aplicação) com recursos livres chegou a 52,7 pontos porcentuais para as pessoas físicas e 17,6 pontos para as empresas. Se não faltam recursos para emprestar, fica claro que a escalada de custos (juros e spread) afugenta os tomadores.

A Caixa Econômica Federal anunciou há pouco a elevação em até 1,3 ponto porcentual ao ano do juro cobrado nas operações de crédito imobiliário. Na média, o custo anual do crédito imobiliário no sistema financeiro como um todo já aumentou 2,1 pontos em 12 meses, de 10,2% para 12,3% ao ano. Isso quer dizer aumento das prestações, o que provoca o afastamento dos compradores.

Reportagem do Estado mostrou bem as limitações do mercado: do pacote de R$ 83 bilhões em linhas para habitação, agricultura, infraestrutura e pequenas e médias empresas anunciado pelo governo federal em janeiro, apenas 2,7% (R$ 2,24 bilhões) foram tomados. O cenário é “totalmente desfavorável” ao crédito, resumiu o ex-diretor do BC Alberto Furuguem.