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A reação de Pequim

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Por Redação
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A China continua assustando governos e mercados, inseguros quanto à evolução da segunda maior economia do mundo, mas pelo menos uma notícia positiva chega de Pequim: no meio da turbulência, as autoridades movem os controles e tentam evitar um dano maior. O banco central chinês baixou os juros e liberou recursos de reservas compulsórias para aumentar a capacidade de empréstimo do setor bancário. Além disso, o governo anunciou a redução de tarifas comerciais para baratear as importações, cortar custos de produção e estimular as vendas ao exterior. As exportações têm sido um dos principais fatores de crescimento desde o começo da grande expansão chinesa, há cerca de um quarto de século. Novas iniciativas podem ser necessárias para manter a economia no rumo desejado, mas analistas apostam na disposição dos governantes chineses de fazer o necessário. 

Depois de dois dias de grandes sustos, os mercados de ações operaram ontem em condições um pouco melhores.

Ainda houve quedas, mas bem menos acentuadas que nas sessões anteriores. De toda forma, alguns especialistas qualificaram as medidas anunciadas como insuficientes, especialmente as de afrouxamento do crédito. Outras intervenções desse tipo serão indispensáveis para garantir o crescimento econômico de 7%, afirmou o economista-chefe para assuntos da China do Australia and New Zealand Banking Group, Li-Gang Liu. Comentário semelhante foi feito pelo analista de mercados da corretora FXTM, Jameel Ahmad. A taxa de 7% é crítica e as autoridades farão o necessário para alcançá-la, escreveu o economista em nota aos clientes.

O primeiro-ministro Li Keqiang contribuiu para a formação dessa expectativa ao reafirmar, na terça-feira, o compromisso com as metas do ano. A economia chinesa, disse ele, continua firme em seus fundamentos. 

Ninguém pode dizer com um mínimo de segurança, hoje, se a meta de 7% será alcançada ou mesmo se os dados de crescimento publicados neste ano são inteiramente confiáveis. A desaceleração da economia chinesa começou há alguns anos, pouco depois do início da crise global, em 2008. A reestruturação da economia foi definida como objetivo político pelo governo chinês. De acordo com o plano, a taxa de expansão seria suavemente reduzida. Ao mesmo tempo, a atividade se tornaria menos dependente das exportações e do investimento. O mercado interno passaria a ter um novo papel na sustentação da atividade produtiva. A comunidade internacional aplaudiu esse programa de reestruturação. 

A mudança foi bem conduzida até o ano passado. A desaceleração foi difícil nos primeiros tempos, mas a economia finalmente pareceu acomodar-se em novo ritmo. Depois de se manter durante anos na faixa de 9% a 10%, a taxa de crescimento diminuiu suavemente. Ficou em 7,8% em 2013 e diminuiu para 7,4% no ano passado. O Fundo Monetário Internacional (FMI) projetou 6,8% para este ano e 6,3% para 2016.

Uma acomodação programada e bem conduzida seria – e assim foi até o ano passado – uma boa contribuição à estabilidade global. Mas também poderia produzir consequências negativas para alguns países. Essas consequências já foram sentidas no ano passado no Brasil e em vários outros países muito dependentes da exportação de matérias-primas para o mercado chinês. A menor demanda na China afetou as cotações internacionais de produtos agrícolas e de minérios. Isso prejudicou a receita de exportações do Brasil. A perda seria muito menos importante se as vendas de manufaturados tivessem peso maior na receita cambial. 

Mas o Brasil se acomodou por mais de dez anos na condição de fornecedor de matérias-primas para a próspera economia chinesa. Mesmo com ajuste, a China continuará uma economia enorme e dinâmica, se nenhum tombo ocorrer nos próximos tempos. Mas o governo chinês tem rumo e mostra-se capaz de reagir aos problemas. Não é bem o caso do governo brasileiro.