Parecem modestos, na prática, os resultados da visita da presidente Dilma Rousseff aos Estados Unidos. À primeira vista, alguns compromissos na área ambiental, outros na área comercial e uma série de contatos com empresários não correspondem às expectativas criadas pelo próprio governo, que tratou a viagem como parte da chamada “agenda positiva” – mezinha para a imensa crise em que está metido. Na verdade, o sucesso da visita pode ser medido pelo simples fato de que ela aconteceu – resultando no relançamento das relações com os Estados Unidos, até então travadas tanto pelo escândalo da espionagem eletrônica feita pelos americanos como pela anacrônica ideologia terceiro-mundista do governo brasileiro.
Está claro que a reaproximação com os EUA se dá mais por necessidade que por convicção de Dilma e do governo petista, cuja ênfase no multilateralismo, na diplomacia com nações periféricas e na aproximação com China e Rússia destinava-se a marcar posição contra o chamado “imperialismo americano”.
A situação atual é bem menos confortável do que há dois anos, quando Dilma decidiu cancelar a visita de Estado que faria aos Estados Unidos. Em 2013, a presidente enfrentava manifestações e queda de popularidade, mas a economia, ainda que à base de pedaladas, mantinha a ilusória sensação de estabilidade. Não foi difícil, para ela, transformar o episódio da espionagem em um ativo eleitoral – era a presidente durona a enfrentar o prepotente gigante do Norte.
Agora, com as contas públicas em frangalhos e a economia estagnada, Dilma foi a Washington munida de apropriado pragmatismo. A visita deveria servir não só para mostrar que as diferenças com os Estados Unidos haviam ficado no passado, como também para sugerir que o Brasil finalmente entendeu que precisa integrar-se às grandes correntes comerciais globais.
Para isso valia mostrar que não há mais obstáculos ideológicos. Daí Dilma ter-se encontrado com o magnata da mídia Rupert Murdoch e com o ex-secretário de Estado Henry Kissinger. Além desse simbolismo, o governo deu sinais concretos de mudança de visão. O ministro do Desenvolvimento, Armando Monteiro, disse que um acordo de livre-comércio com os americanos é uma “aspiração”.
Em outros tempos, Monteiro teria sido tratado como “entreguista” pelos petistas. Graças a esse pensamento retrógrado, o Brasil ficou amarrado a compromissos que se revelaram desastrosos, como os do Mercosul, e ainda resiste a deixá-los de lado para aderir a acordos mais vantajosos. O resultado é a crescente fragilidade brasileira no comércio exterior – no caso dos Estados Unidos, o Brasil passou de um superávit comercial de US$ 7,1 bilhões em 2003 para um déficit de US$ 7,9 bilhões em 2014.
Tornou-se urgente criar oportunidades de negócios com os americanos, e os ministros que viajaram com Dilma trataram de costurar acordos que reduzem a burocracia nas transações comerciais e levantam barreiras sanitárias a produtos brasileiros, entre outras iniciativas que, embora não tenham muito impacto, apontam o início de um novo momento da convivência entre os dois países.
Do lado americano, os interesses específicos em relação ao Brasil eram obter algum compromisso na área ambiental, que foi assumida como bandeira pelo presidente Barack Obama no final de seu mandato, e principalmente evitar que a economia brasileira se atrele ainda mais à órbita chinesa. No caso do clima, Dilma acenou com metas pouco ambiciosas – acabar com o desmatamento ilegal até 2030 e aumentar o uso de fontes renováveis de energia.
Em relação aos chineses, a urgência americana se explica pelo fato de que a China já se tornou o principal parceiro comercial do Brasil e planeja fazer vultosos negócios no País nos próximos anos. Nos últimos tempos, Obama tem se dedicado a estender a mão e oferecer oportunidades de degelo a países latino-americanos que não veem os Estados Unidos com bons olhos. Como garantiu ele ao lado de Dilma, “estamos comprometidos com a região como não estávamos há décadas”.
Resta ao Brasil aproveitar essa oportunidade para, finalmente, arrancar rumo à maior integração com os EUA e com o resto do mundo desenvolvido.