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A reforma da USP

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Por Redação
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Por determinação do Conselho Universitário, a Universidade de São Paulo (USP) irá avaliar todos seus cursos de graduação, com o objetivo de reformular seu projeto pedagógico, rever currículos e modernizar o acervo das bibliotecas. A ideia é criar novas disciplinas, abrir novos cursos e fechar os que têm baixa procura, altas taxas de evasão e baixo impacto social, bem como os que não atendem às necessidades do mercado ou foram superados pelo avanço da tecnologia. A manutenção de alguns cursos noturnos também será discutida. Principal órgão deliberativo da maior e mais prestigiosa instituição brasileira de ensino superior, o Conselho Universitário considera que, depois de um período de expansão, a USP precisa "fazer uma pausa" para discutir as diretrizes de um novo ciclo de crescimento. Nos últimos dez anos, foram criados 85 cursos e o número de vagas aumentou 40%. E, apesar de nos últimos cinco anos o orçamento da instituição ter crescido 40%, como decorrência da elevação das receitas do Estado de São Paulo, isso não se refletiu em aumento da produção científica. Na lista das melhores universidades do mundo da Webometrics Ranking Web of World Universities, a USP perdeu 72 posições, entre 2009 e 2010. Na avaliação da The World University Rankings, ainda que seja considerada uma das melhores universidades da América Latina, a USP ficou no 232.º lugar. A decisão de reestruturar a graduação foi tomada pelo Conselho Universitário há duas semanas e caberá a cada uma das 41 unidades escolher os cursos que serão fechados e os que sofrerão modificações profundas. A implementação da reforma não será fácil, pois as mudanças terão de ser aprovadas pelas congregações - e, em muitas delas, o debate acadêmico é fortemente influenciado por interesses políticos, pressões corporativas e critérios ideológicos.Para induzir as mudanças, a Reitoria pretende reduzir as verbas de projetos das unidades que não seguirem as diretrizes aprovadas pelo Conselho Universitário. A ideia é estabelecer uma competição por recursos suplementares entre as faculdades. "No bom sentido, o objetivo é colocar emulação, incentivo e concorrência dentro da USP. Uma unidade em que as propostas dos dirigentes não têm coerência, que não se mexe e que fica com o dinheiro parado pode perder suplementação, pois está mostrando que não é um bom investimento para a Universidade", diz o reitor Grandino Rodas. Uma das unidades que já começaram a reformar a graduação é a Escola de Artes, Ciências e Humanidades da USP Leste. Em 2009, ela reestruturou o bacharelado em Têxtil e Moda. E, em 2010, modificou o currículo dos cursos de Gerontologia e Obstetrícia e começou a avaliar a licenciatura em Ciências da Natureza, que ofereceu 120 vagas e teve apenas 63 alunos matriculados. Esse é o curso menos disputado no vestibular da Fuvest em 2010. Além disso, a USP Leste pretende criar dois novos cursos no âmbito da chamada "indústria criativa", que envolve design, moda, cultura e artes. Outras unidades que também já iniciaram a reestruturação são a Escola de Comunicação e Artes (ECA) e a Faculdade de Medicina. Até recentemente, alguns dos cursos da ECA tinham o mesmo currículo da década de 1970. Na Faculdade de Medicina, que nos últimos anos introduziu antropologia e filosofia no currículo, para dar ao ensino de medicina um viés mais "humanista", a ideia é oferecer aos alunos do 5.º ano a mesma oportunidade que já é dada aos estudantes do 1.º e 3.º anos, de ajudar no atendimento das Unidades Básicas de Saúde, do Município de São Paulo, e no programa Saúde da Família, do governo federal. Com cerca de 57 mil alunos de graduação, 26 mil alunos de pós-graduação, 5,7 mil professores e 15,7 mil funcionários técnico-administrativos, a USP se agigantou de tal forma que corria o risco de ser sufocada pela burocracia e pelo anacronismo de seu projeto pedagógico. Ainda que sua implementação deva ser morosa, o projeto de reestruturação aprovado pelo Conselho Universitário foi o melhor caminho encontrado para se chegar à sua revitalização.