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A resistência da inflação

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Por Redação
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São ruins os dados da inflação divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), medida oficial da inflação, subiu 0,78% em maio, acentuando a tendência de alta iniciada em março, e elevou o acumulado de 12 meses para 9,32%, muito acima do generoso limite de tolerância da política de meta inflacionária, de 6,5% (2 pontos porcentuais mais do que a meta).

Esses números mostram forte resistência da inflação, num período em que, abatida pelos desmandos praticados durante a gestão da presidente afastada Dilma Rousseff, a atividade econômica alcança seus níveis mais baixos em décadas, resultando numa combinação perversa de alta acentuada dos preços com queda de produção, desemprego, perda de renda e disseminação de desânimo. Os números do IBGE contrariam a sazonalidade e interrompem a série de queda da variação acumulada de 12 meses iniciada em janeiro, quando atingiu 10,71% (a inflação de 12 meses até abril tinha sido de 9,28%). Compõem um quadro que deixa pouca margem para o alívio da política monetária no curto prazo – o que ajuda a explicar a decisão do Copom de manter o atual nível dos juros básicos.

Correção acentuada de preços administrados, desconfiança generalizada com relação ao futuro próximo que o início do governo interino chefiado por Michel Temer não conseguiu aplacar e inércia persistente estão entre os fatores apontados por economistas de instituições privadas para a resistência da inflação.

Em cinco meses, a inflação já está prestes a superar a meta de 4,5% para todo o ano, pois a alta de maio, mais acentuada do que a de abril (de 0,61%), elevou o acumulado do ano para 4,05%. Entre os principais itens que impulsionaram o IPCA no mês passado estão os preços administrados. Esse grupo teve aumento médio de 1,79% e foi responsável por 0,27 ponto porcentual do IPCA de maio.

A tarifa de água e esgotos, por exemplo, teve aumento médio de 10,37% e foi responsável por 0,15 ponto porcentual do índice de maio. A alta deveu-se basicamente ao fim do programa de incentivo à redução do consumo da água da Sabesp. Com alta média de 2,28% no mês, a energia elétrica também teve peso importante no IPCA de maio.

O segundo maior impacto veio do grupo alimentação, com aumento de 0,78% no mês e responsável por 0,20 ponto da alta do índice geral. Este grupo vem registrando alta média acima do IPCA desde 2007. Entre aquele ano e maio último, os alimentos tiveram alta de 131,08%, enquanto o IPCA médio subiu 78,78%. Entre os motivos apontados para essa alta expressiva pela coordenadora de índices de Preços do IBGE, Eulina Nunes dos Santos, estão fatores climáticos e a demanda crescente de alimentos pelos países emergentes, que pressionam o preço das commodities.

A boa notícia que acompanha os dados do IPCA de maio é que alguns dos principais impulsionadores do índice perderam ou estão perdendo força. Como lembrou a coordenadora do IBGE, a maior parte do impacto dos preços administrados já ficou para trás. Ainda haverá algum efeito residual no índice de junho, mas outros preços administrados, como luz, remédio e transporte público, foram corrigidos nos cinco primeiros meses do ano.

Além disso, o índice de difusão, importante referência do vigor da alta média dos preços, vem se reduzindo, tendo caído de 66,8% em abril para 63,0% em maio.

Um importante indicador, porém, continua a preocupar. O Índice Geral de Preços – Disponibilidade Interna (IGP-DI), da Fundação Getúlio Vargas, subiu 1,13% em maio (11,26% em 12 meses), empurrado pelos preços no atacado, que subiram em média 1,49% no mês passado. Ao longo dos próximos meses, essa alta será repassada, ainda que de forma mitigada, aos preços no varejo, sobretudo de alimentos.

Esse risco, associado ao quadro de baixa confiança dos agentes econômicos, recomenda gestão cautelosa da política monetária.