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A volta gradual ao consumo

As vendas de seis dos dez segmentos cobertos pela pesquisa do IBGE foram maiores em fevereiro do que em janeiro

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Por Redação
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São melhores do que podem parecer à primeira vista, embora ainda apontem um movimento inferior ao de um ano antes, os números do varejo publicados na quarta-feira passada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). As vendas de seis dos dez segmentos cobertos pela pesquisa foram maiores em fevereiro do que em janeiro. Este é um detalhe especialmente relevante quando se consideram o desemprego elevado – e talvez ainda em alta – e a natural cautela de consumidores empenhados em recompor suas contas depois de uma fase de alto endividamento. No período examinado, o comércio varejista restrito vendeu 0,2% menos, em volume, que no mês anterior e 3,2% menos que em fevereiro de 2016. No varejo ampliado, com inclusão de veículos, partes e peças e também de material de construção, as vendas superaram por 0,2% as de janeiro. No mercado financeiro houve reações positivas e negativas a essas informações. Alguns analistas deram maior ênfase aos dados negativos que aos sinais de reação em alguns setores. Além disso, houve demonstrações de surpresa e até de algum desconforto diante da revisão metodológica do relatório de janeiro. Essa revisão, segundo alguns especialistas, poderia dificultar o cálculo da evolução do Produto Interno Bruto (PIB) no primeiro trimestre.

Apesar da revisão, o quadro parece claro e sem nada muito inesperado. A atualização é uma prática periódica e envolve uma revisão do universo pesquisado e dos pesos atribuídos às categorias de informantes. A base da pesquisa passou de 2011 para 2014 e o total da amostra passou de 5.700 para 6.157 empresas. O primeiro efeito foi bastante sensível, no caso do varejo restrito. Na versão antes divulgada, o volume de vendas do varejo restrito havia sido em janeiro 0,7% menor que em dezembro. A versão atualizada apontou um crescimento de 5,5%. No caso do varejo ampliado a mudança foi de um recuo de 0,2% para um avanço de 2,8%.

Os detalhes negativos de fevereiro podem ter sido, segundo alguns analistas, uma devolução do ganho estatístico nos dados de janeiro. Pode ser, mas os pontos mais interessantes estão nos dados positivos do último mês. A queda geral no varejo restrito é atribuível principalmente à baixa de 0,5% nas vendas de alimentos, bebidas e fumo dos hiper e supermercados. Esse grupo tem um grande peso na formação do conjunto.

Mais que esse dado em vermelho, pouco significativo depois de uma alta – esta, sim, surpreendente – de 8,1% em janeiro, merece atenção o crescimento de vendas de: 1) móveis e eletrodomésticos; 2) tecidos, vestuário e calçados; 3) livros, jornais, revistas e papelaria; 4) artigos farmacêuticos e de cosméticos; 5) combustíveis e lubrificantes; e 6) veículos.

No caso dos veículos, as vendas aumentaram apenas 0,1% em fevereiro, mas isso veio depois de uma alta mensal de 1,2% em janeiro. Essa quase estabilidade já é um dado claramente animador, especialmente por se tratar de uma classe de produtos de alto custo e muito dependente, para comercialização, de um crédito ainda escasso. O resultado de janeiro é explicável principalmente pelas promoções, destinadas em boa parte à eliminação de estoques. Mas a manutenção do volume de vendas no mês seguinte de nenhum modo é um dado desprezível.

As médias móveis trimestrais confirmam algum avanço desde o fim do ano passado. No varejo ampliado essa média foi positiva nos trimestres encerrados em novembro (0,1%), dezembro (0,1%), janeiro (1,1%) e fevereiro (1,5%). No comércio varejista restrito, a média subiu 1,4% no período encerrado em janeiro e 1% nos três meses até fevereiro.

O consumo, de toda forma, permanece muito baixo, depois da longa recessão. No varejo restrito houve baixa de 5,4% em 12 meses. No ampliado a queda foi de 7,5%. Falta uma longa recuperação só para a volta aos níveis de um ano antes. Isso dependerá da melhora das expectativas e da retomada das contratações pelas empresas. O País necessitará, para isso, tanto do progresso dos ajustes e reformas quanto da reativação dos investimentos em infraestrutura.