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Ainda no atoleiro

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Por Redação
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A economia continuou no atoleiro em maio, com avanço de apenas 0,03%, e em condição bem pior que a do ano passado, segundo o indicador de atividade do Banco Central (IBC-Br). A minúscula reação, quase nula, ocorreu depois de dois meses de quedas. Só com muito otimismo se poderia tomar esse número, divulgado na sexta-feira passada, como sinal de melhora. No mesmo dia, uma nova redução do emprego industrial – queda de 1% de abril para maio – foi anunciada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Todos os números oficiais conhecidos nas últimas semanas, antes do índice do Banco Central, parecem confirmar uma nova contração do Produto Interno Bruto (PIB) no segundo trimestre. No primeiro, o PIB foi 0,16% menor que nos três meses finais de 2014 e 1,56% inferior ao de janeiro a março do ano passado. O conserto dos danos acumulados nos últimos quatro anos será, tudo indica, muito mais trabalhoso do que avaliavam muitos analistas no início de 2015.

Em maio, o nível de atividade estimado pelo Banco Central ficou 3,08% abaixo do contabilizado no mesmo mês de 2014, na série depurada de efeitos sazonais. Na mesma série, o valor acumulado em cinco meses foi 2,64% menor que o registrado até maio do ano passado. Em 12 meses, a queda chegou a 1,68%. Na série sem ajuste, a retração foi um pouco maior, de 1,72%. Apesar do resultado ligeiramente positivo para o último mês avaliado, o quadro apresentado pelo Banco Central continua muito ruim e é até difícil de entender, neste momento, por que o dado mensal terá ficado acima de zero.

O IBC-Br é considerado uma antecipação, imprecisa mas útil, dos números do PIB apresentados a cada trimestre pelo IBGE. Por enquanto, parece mais seguro continuar apostando num balanço negativo do período de abril a junho – e sem expectativa de grande melhora na segunda metade do ano.

O novo dado sobre a redução do emprego industrial aponta a continuidade de uma tendência. Em maio, o número de empregados na indústria foi 5,8% inferior ao de um ano antes. Nos primeiros cinco meses, a média foi 5% menor que a de janeiro a maio de 2014 e em 12 meses a redução foi de 4,4%.

Esses números combinam com a contração do produto industrial, de 3,2% em 2014 e de 6,9% nos 12 meses terminados em maio. No mês, a produção foi 0,6% maior que a de abril e ficou 8,8% abaixo da calculada um ano antes. Mas a melhora de um mês para outro nem sequer compensou as quedas nos três meses anteriores. É provavelmente explicável, portanto, pelo nível muito baixo da base de comparação.

Em maio, houve aumento até da fabricação de bens de capital, isto é, de máquinas e equipamentos (0,2%), mas também esse dado parece indicar, simplesmente, uma pequena reação depois de um prolongado e profundo mergulho. No mês, a produção desses bens foi 26,3% menor que a de um ano antes, segundo o IBGE. Seria muitíssimo arriscado, nesse caso, imaginar uma retomada do investimento, especialmente quando há tanta incerteza, entre os empresários, sobre a evolução dos negócios nos próximos meses.

Também os consumidores se mostram inseguros e pouco dispostos a ir às compras. De abril para maio, o volume das vendas no varejo “restrito” diminuíram 0,9%. No varejo “ampliado”, isto é, com a inclusão de veículos e materiais de construção, a queda foi de 1,8%.

Nos dois casos, o acumulado em 12 meses foi negativo, com redução de 0,5% nos números do comércio “restrito” e de 5% no do segmento “ampliado”. Esses dados claramente remetem à elevação de juros, ao crédito mais apertado, ao desemprego em alta e à redução dos incentivos fiscais ao consumo. Evidenciam, também, a forte retração da atividade no setor automobilístico e a estagnação dos programas habitacional e de investimento em infraestrutura.

No Ministério da Fazenda já se projeta para 2015 uma contração econômica de 1,5%. É uma estimativa mais sombria que a apresentada pelo Banco Central (redução de 1,1%) em seu relatório de junho sobre as condições da economia. Apesar dos negócios em crise, a inflação continua elevada e isso complica extraordinariamente o cenário.