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Apostas para o futuro próximo

O humor tem melhorado nos Estados Unidos, na Europa e no Japão e também na segunda maior economia do mundo, a China, ainda classificada como emergente

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Por Redação
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Brasileiros mantêm a aposta em melhoras na economia nos próximos seis meses, mas com menos entusiasmo do que no trimestre encerrado em outubro, logo depois, portanto, da mudança de governo. No Brasil, como na Argentina, parece ter ocorrido uma calibragem do otimismo exibido logo depois da posse de novos governantes, mas os indicadores de expectativa permaneceram, em janeiro, acima da média histórica de 10 anos. A avaliação aparece na última Sondagem Econômica da América Latina Ifo/FGV, produzida em cooperação da pela Fundação Getúlio Vargas e pelo Instituto de Pesquisa Econômica Leibniz, da Universidade de Munique, na Alemanha.

A sondagem evidencia, mais uma vez, a troca de posições entre executivos e economistas latino-americanos e seus colegas do mundo rico. Depois de enfrentar com razoável segurança os primeiros anos a partir da crise de 2008, as economias da América Latina começaram a perder impulso. Algumas foram afetadas principalmente pela baixa dos preços das matérias-primas – um processo agora em reversão. Outras, como o Brasil, foram abaladas basicamente por problemas internos. No caso do México, deve ter pesado, segundo o relatório, o temor das políticas anunciadas pelo candidato Donald Trump, hoje instalado na Casa Branca.

Ao mesmo tempo, as economias mais atingidas pela crise financeira global começaram a mover-se e a ganhar vigor, com aumento dos negócios e redução do desemprego. A última sondagem mostrou melhora do clima econômico nos países desenvolvidos, com aumento dos indicadores de avaliação tanto de situação atual quanto de expectativas.

O humor tem melhorado nos Estados Unidos, na Europa e no Japão e também na segunda maior economia do mundo, a China, ainda classificada como emergente. Na zona do euro, a agência Eurostat apontou crescimento econômico de 0,4% no trimestre final de 2016. O Produto Interno Bruto (PIB) da união monetária ficou 1,7% acima do contabilizado um ano antes, pouco abaixo das expectativas de analistas (1,8%). A notícia foi divulgada na terça-feira passada, pouco antes de circular no Brasil a sondagem Ifo/FGV.

O indicador de clima econômico registrado por essa sondagem sintetiza duas avaliações, a da situação atual e a dos seis meses seguintes. O índice de clima econômico da América Latina recuou ligeiramente, de 70 para 69 pontos, voltando ao nível de outubro de 2016. O indicador da situação atual subiu 5 pontos, passando de 31 a 36, e de expectativas diminuiu 11 pontos, de 122 para 111.

A movimentação dos dois números pode confundir o leitor, se ele descuidar de alguns detalhes. Apesar da melhora, a avaliação do cenário atual continuou na área negativa. Apesar da piora, o índice de expectativas permaneceu na zona positiva. Na média, os latino-americanos continuam insatisfeitos em relação ao presente e razoavelmente otimistas quanto ao futuro próximo.

Mas essa é só a média. No caso do México, a avaliação do presente melhorou, enquanto piorou a imagem dos seis meses seguintes, como efeito da eleição de Trump. Entre os colombianos e chilenos houve elevação dos dois indicadores. No Brasil, o primeiro passou de zero a quatro e o segundo recuou de 175 para 154, mas, apesar do retrocesso, o otimismo se manteve bem acima do nível médio de dez anos, de 109.

Não parece haver grande mistério nesse otimismo, depois de mais de dois anos de recessão, de desemprego crescente e de enorme insegurança política e econômica. No mercado, segundo o último boletim Focus do Banco Central, a mediana das expectativas indica um crescimento econômico pouco abaixo de 0,5% em 2017 e acima de 2% em 2018. Não há brilho nesses números, mas até a hipótese de uma lenta recuperação pode ser animadora, depois do desastre econômico dos últimos anos.

Essa expectativa é um ativo de enorme valor para o presidente Michel Temer. Como administrador, ele tem a obrigação de fazer esse ativo render e proporcionar um bom retorno aos brasileiros. Nada justificaria uma nova decepção.