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Armadilhas da estagnação

Os governos fizeram bem menos que o necessário para restabelecer o dinamismo da produção e dos mercados

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Por Redação
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Ainda atolada na recessão, a economia brasileira deve encolher 3,3% neste ano e 0,3% no próximo, “apesar de alguma melhora”, segundo as novas projeções da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). A “melhora” parece considerável quando os novos números são comparados com os de junho: contração de 4,3% em 2016 e de 1,7% em 2017. Apesar das previsões menos feias, o País se mantém como um dos campeões do mau desempenho num cenário mundial dominado pela mediocridade. Os economistas da instituição diminuíram de 3% para 2,9% a expansão global esperada para este ano e de 3,3% para 3,2% a estimada para o seguinte. A recuperação deve continuar, portanto, mas em ritmo lento e num ambiente de riscos importantes. O mundo, segundo o relatório, continua preso numa armadilha de fraco crescimento, com as baixas expectativas deprimindo ainda mais o comércio, o investimento, a produtividade e os salários.

Desde a crise de 2008 a expansão do comércio mundial foi reduzida à metade, a liberalização dos mercados diminuiu e o desenvolvimento das cadeias globais de valor se enfraqueceu, de acordo com a análise publicada pela OCDE. Os governos fizeram bem menos que o necessário para restabelecer o dinamismo da produção e dos mercados. A recuperação, até agora, dependeu de forma excessiva do afrouxamento monetário, isto é, do corte de juros, da facilitação do crédito e da enorme emissão de dinheiro – ainda em execução – pelos bancos centrais dos países mais avançados.

Quanto a este ponto, o diagnóstico dos técnicos da OCDE coincide com aquele já apresentado, mais de uma vez, por economistas e dirigentes de outras entidades multilaterais, como o Fundo Monetário Internacional (FMI). A política monetária ficou sobrecarregada e é preciso dar mais peso a políticas fiscais e a reformas estruturais propícias à reativação econômica, à elevação da produtividade e à criação mais rápida de empregos. Além do mais, juros muito baixos e até negativos distorcem os negócios financeiros, superaquecem certos mercados – como os de imóveis, em alguns países – e elevam o perigo de um novo ajuste desastroso, advertem os autores da análise.

Todas essas questões devem ser retomadas, em pouco tempo, nos principais documentos preparados para a próxima reunião anual do FMI, marcada para outubro, em Washington. A excessiva dependência dos estímulos monetários será provavelmente apontada, mais uma vez, e novamente haverá uma convocação dos governos para a implantação de reformas e de políticas fiscais mais fortes e mais coordenadas, para a reativação mais firme dos negócios e a criação de mais oportunidades no mercado de empregos.

Embora com crescimento menor que o indicado no relatório de junho, a economia americana deve continuar entre as mais dinâmicas. As novas projeções apontam expansão de 1,4% em 2016 e 2,1% em 2017. China e Índia continuarão entre os países com avanço mais veloz, com taxas acima de 6% e de 7% neste e no próximo ano. No caso chinês, a acomodação iniciada há alguns anos deve continuar.

A menor expansão chinesa tem afetado o comércio dos grandes exportadores de matérias-primas, como o Brasil, mas os problemas brasileiros têm causas principalmente internas. Relatórios de entidades multilaterais, especialmente os do FMI, já têm explorado com clareza esse detalhe há alguns anos. Para qualquer leitor informado, a posição brasileira aparece duplamente diferenciada, quando se examina o cenário exposto pela OCDE.

No caso do Brasil, a armadilha do baixo crescimento foi armada principalmente pelos governos petistas, pouco preocupados com os fundamentos da economia e com produtividade, competitividade e integração nas cadeias globais. Não há espaço para incentivos fiscais ou monetários, por causa das contas públicas estraçalhadas e da inflação alta e resistente. Não haverá confiança para a reativação sem um claro compromisso com o ajuste.