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Arrecadação em primeiro lugar

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Por Redação
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Em 2009, a Companhia de Engenharia de Tráfego (CET) teve uma arrecadação recorde de multas: R$ 473 milhões, um crescimento de 22% sobre o ano anterior. Cerca de 1,5 milhão dessas multas foram aplicadas por excesso de velocidade. Mas o mais importante é que esses recursos, finalmente, deixaram de cair no caixa único da Prefeitura de São Paulo e passaram a compor o Fundo Municipal de Desenvolvimento de Trânsito, cumprindo determinação do Código de Trânsito Brasileiro. O orçamento aprovado para a empresa neste ano é de R$ 600 milhões, quase 60% maior do que há cinco anos. Esse é um dos resultados da reorganização da empresa, iniciada em 2005, quando o seu orçamento passou a ser maior do que o simples pagamento da folha de pagamento da empresa. Mas a folga financeira não chegou a se refletir ainda em investimentos destinados ao ordenamento do trânsito e à redução da lentidão nos principais corredores. A velocidade média dos veículos caiu, nos últimos três anos, de 29 para 15 quilômetros por hora no pico da tarde. Por sua vez, os índices de mortes e atropelamentos da capital colocam São Paulo como o trânsito mais violento do mundo. No primeiro semestre de 2009, 690 pessoas perderam a vida nas ruas da cidade ? 2,16 mortes para cada 10 mil veículos. Dos equipamentos instalados em São Paulo para o controle do trânsito, apenas os radares funcionam perfeitamente. Afinal, foram responsáveis pelo registro de mais da metade das multas e por isso se multiplicam: no ano passado, foram instalados 105 novos radares, somando 452 ao todo. Até dezembro, São Paulo terá mais 125. Reportagem do Estado mostrou, no dia 15, que numa mostra de 44 radares instalados nas principais vias da cidade, 18 estão em operação sem que as placas de sinalização do limite de velocidade na via e da presença do equipamento estejam visíveis ao motorista ? o que contraria o Código de Trânsito. Ficam ocultas pelos ramos das árvores e em vários pontos nem sequer foram instaladas. A função educativa é, assim, deixada de lado, em benefício da preocupação arrecadadora.Por sua vez, os semáforos chamados de inteligentes permanecem inúteis. Sem a manutenção adequada, tornam-se obsoletos e apenas funcionam normalmente em 15% dos 1.457 cruzamentos onde foram instalados. Também a presteza que a CET poderia exibir para identificar problemas na malha viária superlotada, atuando rapidamente para a liberação das pistas, se perde com a falta de recursos técnicos e humanos. Das 302 câmeras de monitoramento, 39% não funcionam e 6% operam apenas parcialmente, e, assim, os centros de controle não conseguem enviar seus agentes com a rapidez necessária para os pontos bloqueados por acidentes ou panes de veículos. A comunicação entre os agentes também é insatisfatória ? os rádios de comunicação foram substituídos por palmtops, mas, agora, os rádios estão voltando e, apesar das promessas de investimentos de R$ 38 milhões num sistema eficaz de comunicação, a troca de informações é lenta e prejudica o atendimento. No mês de dezembro, o telefone 1188 registrou 74.447 ligações para informar sobre acidentes, semáforos e carros quebrados. Boa parte dos cerca de 800 veículos da CET permanece fora das ruas, pois, com idade média de 9 anos, precisa de boa manutenção e a oficina da empresa não tem capacidade para atender a toda a demanda. No fim do ano, época em que o trânsito bate recordes de congestionamento em São Paulo, 39% dos veículos da CET estavam encostados para consertos. Durante todo o ano de 2009, apenas 7 carros foram adquiridos, um número ínfimo numa cidade onde entram nas ruas pelo menos 500 carros novos por dia. Insuficiente também é o quadro de agentes ? 2,2 mil marronzinhos para mais de 4 milhões de veículos que circulam diariamente. Um fiscal para cada 1,7 mil automóveis. Na Cidade do México, com frota semelhante à da capital, há 10 mil funcionários de trânsito.A CET precisa pôr em prática, com urgência, um programa de investimentos em equipamentos, pessoal e treinamento, pois agora dispõe de recursos.