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As mudanças na USP Leste

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Por Redação
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No início do ano letivo de 2010, o jornal O Estado de S. Paulo publicou várias reportagens e editoriais mostrando que a USP Leste estava em crise, uma vez que alguns de seus cursos ? especialmente os de Obstetrícia e Gerontologia ? tinham sido mal concebidos, sem levar em conta a realidade do mercado de trabalho. Por isso, agora cerca de 200 formandos da USP Leste, que começou a funcionar em 2005, não conseguiram obter registro nos conselhos profissionais nem encontrar emprego em sua área de especialização. Agora, os estudantes desses cursos passaram a reivindicar uma reformulação do currículo e a defender a tese de que a USP Leste teria de ser "reinventada". Em resposta, vários professores, chefes de departamento e coordenadores de disciplinas de graduação alegaram que o projeto era inovador e que as críticas eram infundadas. Para muitos docentes, se as universidades tivessem de oferecer apenas cursos que os conselhos profissionais reconhecem, elas não conseguiriam fazer pesquisas de ponta, alargar as fronteiras do conhecimento e abrir caminho para novas profissões. Houve até quem dissesse que a oferta de bacharéis com um novo perfil técnico criaria a demanda pelos serviços desses profissionais.Quase seis meses depois da polêmica, os alunos das duas primeiras turmas de Obstetrícia estão sendo convocados pela USP Leste para voltar a estudar em 2011, com o objetivo de completar sua formação acadêmica. O mesmo poderá acontecer com quem se formou em Gerontologia, cujo currículo está sendo reformulado. As aulas de complementação serão oferecidas aos sábados, durante um ano, e só quem frequentá-las poderá registrar o diploma no Conselho Regional de Enfermagem do Estado de São Paulo e na Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia.Ao justificar a convocação, que macula a imagem de eficiência que a USP adquiriu em 75 anos de existência, a cúpula da instituição acabou reconhecendo a procedência das críticas. Por causa dos equívocos do projeto pedagógico da USP Leste, os profissionais formados em Obstetrícia não estavam conseguindo trabalhar nem mesmo na rede estadual de saúde. Em outras palavras, o governo paulista não vinha aceitando profissionais bacharelados por uma instituição de ensino superior por ele próprio mantida. "Havia falhas", diz a professora Telma Maria Tenório Zorn, pró-reitora de graduação da USP. O novo currículo foi definido pelo Conselho de Graduação no mês passado. Foram introduzidas sete novas disciplinas na área de Ciência Médica e o curso passará de 8 para 9 semestres ? inovações que valem para o próximo vestibular. "Depois de todo um processo de desgaste, a Universidade entendeu que tinha de fazer uma revisão. A história da USP é muito rica para se permitir isso", afirma o presidente do Conselho Regional de Enfermagem, Cláudio Alves Porto. A crise da USP Leste tem origem no modo como ela foi concebida e implantada. A ideia de erguer um novo campus na Rodovia Ayrton Senna, numa área carente da periferia, foi uma iniciativa importante do governador Mário Covas, cujo objetivo era democratizar o acesso ao ensino superior público. Mas, além de se deixar levar por modismos pedagógicos e por estratégias de marketing, o projeto foi tocado às pressas pelo então governador Geraldo Alckmin, para servir de bandeira política na eleição de 2006. Na época, o presidente Lula, candidato à reeleição, colhia dividendos da criação da Universidade Federal do ABC, região próxima da zona leste, e que foi concebida para oferecer cursos mais técnicos, de caráter interdisciplinar.Em vez de se concentrar nas áreas tradicionais do conhecimento, a USP Leste, uma vez que o regimento da USP proibia a duplicação de cursos tradicionais já oferecidos na capital, também optou por cursos técnicos. Agora se vê que o mais adequado teria sido a revisão do regimento da USP, pois, ao oferecer melhor preparo, os cursos tradicionais teriam dado aos alunos da zona leste condição de ingresso no mercado de trabalho que os cursos técnicos não conseguiram assegurar.