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As promessas de Doria

Depois de sua vitória no primeiro turno, fato inédito na capital, o prefeito eleito João Doria sentiu-se seguro para reafirmar as promessas de campanha

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Por Redação
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Depois de sua vitória no primeiro turno, fato inédito na capital, o prefeito eleito João Doria sentiu-se seguro para reafirmar as promessas de campanha, em relação às quais os candidatos eleitos em geral não demoram a recuar, porque sabem melhor do que ninguém dos exageros deliberadamente cometidos na ânsia de buscar votos. É um bom começo, embora seja prudente esperar para ver se o tempo, a ambição e o duro jogo político não abalarão essa determinação.

A saúde será mesmo, insistiu ele, a prioridade de seu governo, o que é uma boa escolha. Para isso conta com o orçamento “expressivo, robusto”, de R$ 9,4 bilhões, para esse setor, que espera seja mantido pelo atual prefeito. O destaque será para a contratação de mais 800 médicos, a começar pelos já aprovados em concurso, e a cooperação com os hospitais estaduais e da rede privada para reduzir o tempo de espera nos exames.

Doria logo vai se dar conta – mas não custa esperar que supere esse obstáculo – que infelizmente, como mostra a experiência de várias administrações, as dificuldades para a ampliação do quadro de médicos da rede municipal vão além das limitações orçamentárias. Nem sempre a oferta de bons salários é suficiente para seduzir esses profissionais, assustados com a violência que impera nas regiões mais afastadas da periferia, justamente onde a sua presença é mais necessária.

A implementação de outro ponto importante do programa do futuro governo – a privatização – deverá ser mais fácil. A gritaria que o PT, seus partidos aliados e os ditos movimentos sociais – abatidos pela fragorosa derrota eleitoral – certamente promoverão contra ela será irrelevante. Com a venda do Anhembi, de Interlagos e outros bens, Doria espera arrecadar R$ 7 bilhões, a serem investidos em educação e saúde.

Em vários pontos da área de mobilidade urbana, aquela em que o prefeito Fernando Haddad inventou ter feito uma “revolução” – que só ele, os seus áulicos e os incautos iludidos por sua esperta propaganda enxergam –, seu sucessor garante que fará as correções que se impõem. Um deles é a retomada das velocidades de 90 km/h, 70 km/h e 60 km/h nas várias pistas das Marginais do Tietê e do Pinheiros, que Haddad reduziu sob a alegação de que isso era necessário para diminuir o número de acidentes de trânsito.

Doria argumenta, corretamente, que não faz sentido pistas expressas como aquelas com baixa velocidade e que a diminuição dos acidentes nelas tem outras causas, entre as quais a redução de 11% no número de veículos em circulação, em decorrência da grave crise por que passa o País. Tanto é assim que os acidentes caíram também nas rodovias estaduais, onde a velocidade não foi alterada. Nas demais ruas e avenidas, onde a baixa velocidade é correta, não haverá mudanças.

Quanto ao item mais espalhafatoso da tal “revolução” – as ciclovias – o futuro prefeito deve corrigir seus clamorosos erros, produtos da pressão e da improvisação. Serão desativadas as que não têm movimento que as justifiquem – e são muitas – e as que utilizam calçadas, que devem ser dos pedestres. As que a seu ver deram certo – um exemplo citado por ele é a da Avenida Paulista, onde também pela mesma razão será mantido seu fechamento aos domingos – serão preservadas. Tudo isso será avaliado por estudos técnicos. Dessa maneira, as coisas serão colocadas em seus devidos termos e, livre de demagogia, se poderá tirar das ciclovias o que elas de fato podem dar.

Com relação a uma questão importante – a da tarifa de ônibus – Doria não foi feliz. Sua decisão de não reajustá-la em 2017 repete erro de antecessores seus pelo qual, como mostra a experiência, a cidade paga caro. Seu benefício para os usuários é ilusório e demagógico, porque a defasagem entre a tarifa congelada e o seu custo real acaba sendo paga pelo Tesouro – ou seja, os contribuintes – sob a forma de subsídios. Seria bom que o futuro prefeito repensasse essa questão.