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Bom começo de Hollande

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Por Redação
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O novo presidente francês, François Hollande, agiu com realismo ao voar para Berlim logo depois da posse, para uma conversa com a chanceler Angela Merkel. A zona do euro precisa de crescimento e não só de aperto fiscal, têm dito Hollande e outros líderes da região, mas uma revisão da política anticrise só será possível a partir de um acordo com o governo alemão. Alemanha e França continuarão liderando economicamente a união monetária e o entendimento entre seus governantes será essencial até para a sobrevivência do euro. O primeiro encontro pode ter servido apenas para um início de conversa, mas a primeira manifestação de ambos mostrou uma importante convergência: as autoridades gregas, segundo eles, devem cumprir os compromissos assumidos em troca do segundo pacote de ajuda, de 130 bilhões, e do corte de 50% do valor de face da dívida com os bancos. O recado conjunto para os gregos também mostra a cautela de François Hollande. Sua chegada ao poder fortalece o movimento a favor de mais esforços para o crescimento na Europa, mas sem afetar o grande problema dos eleitores gregos. Na votação prevista para junho, eles deverão decidir se farão o necessário para continuar na zona do euro e, talvez, na União Europeia. Sem acordo para a formação de um governo, o país terá de ir novamente às urnas e desta vez a votação valerá como um plebiscito sobre os vínculos da Grécia com o bloco europeu. A escolha fundamental é clara e a partir desse ponto a Comissão Europeia pode entrar em cena."A determinação final sobre ficar na zona do euro deve vir dos gregos", disse o presidente da comissão, José Manuel Durão Barroso, lembrando também a promessa de correção dos enormes desequilíbrios da economia grega. Mas em seguida acenou - e esta é uma novidade importante - com a possibilidade de uma cobrança menos rígida de resultados: "Vamos usar flexibilidade, quando for necessária", disse Barroso. Ele também mencionou a formação de um consenso a respeito de um reforço para o Banco Europeu de Investimento (BEI), uma possível fonte de recursos para obras e criação de empregos.A discussão dessa proposta começou recentemente. A referência ao assunto pelo presidente da Comissão Europeia é um sinal animador. A intervenção do BEI pode facilitar a geração de estímulos ao crescimento sem comprometer, a curto prazo, os programas de redução dos déficits orçamentários e as agendas de reformas. Os novos governos da Itália, da Espanha e de Portugal estão empenhados no conserto das contas públicas e na adoção de reformas institucionais para aumentar a flexibilidade econômica, sem deixar, no entanto, de defender a busca de uma estratégia comum de crescimento. A criação de um título de responsabilidade comum dos governos - o eurobônus ou algo semelhante - facilitaria a gestão fiscal dos países endividados. Hollande é um dos defensores da ideia. A criação desses títulos criaria, segundo ele, condições para a captação de recursos destinados a financiar obras públicas. De toda forma, o eurobônus serviria pelo menos, segundo os proponentes da ideia, para aumentar a segurança dos bancos e baratear o financiamento dos Tesouros. O governo alemão tem resistido à ideia de criação desses títulos. Convencer Angela Merkel a apoiar a proposta será, portanto, um dos desafios para François Hollande. Não se deve esperar do novo presidente francês, no entanto, uma ação de confronto capaz de romper a cooperação entre as duas maiores potências da zona do euro. A escolha do novo primeiro-ministro francês, o deputado Jean-Marc Ayrault, um ex-professor de alemão, conhecido como germanófilo, foi vista por alguns como um prenúncio de cooperação. O apoio crescente à ideia de mais crescimento deve facilitar a revisão das políticas. Uma boa fórmula pode ser aquela proposta pelo Fundo Monetário Internacional (FMI). Com programa viável de ajuste fiscal e de reformas a médio prazo, os governos poderão ganhar espaço para a adoção, agora, de estímulos ao crescimento. De qualquer forma, credibilidade continuará sendo um ingrediente essencial para o sucesso.