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Braço de ferro com a China

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Por Redação
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Dezenove membros do Grupo dos 20 (G-20), incluído o Brasil, gostariam de ver a moeda chinesa valorizar-se pelo menos uns 20%. O vigésimo membro do G-20 é a China. Seu governo continua resistindo à pressão, cada vez mais forte, pela valorização do yuan. O câmbio certamente ajuda o fabricante chinês a inundar os mercados com produtos baratos. Não é o único fator de competitividade, mas é importante e incomoda a maior parte do mundo. A campanha é liderada pelo governo dos Estados Unidos, com apoio de muitos congressistas e de grande parte do empresariado. Os dirigentes do FMI e do Banco Mundial participam do coro. Reduzir o desequilíbrio entre Estados Unidos e China é indispensável para a boa saúde da economia global, dizem economistas de renome. Mas a economia americana será de fato tão beneficiada por uma valorização do yuan? Dois economistas, Dan Newman e Frank Newman, deram uma resposta negativa, num artigo publicado na revista Foreign Policy. Encarecer os produtos chineses, segundo eles, prejudicará os consumidores e não aumentará a produção nem criará empregos nos Estados Unidos. Essa tese é discutível, mas abre uma perspectiva interessante para a discussão do tema. O governo chinês tem sido acusado há anos de manipular o câmbio para manter o yuan desvalorizado, apesar dos enormes superávits nas contas externas do país. A China tem hoje reservas cambiais equivalentes a US$ 2,3 trilhões, formadas em grande parte por títulos públicos americanos. Senadores dos Estados Unidos propuseram classificar a China como um país manipulador do câmbio para obter vantagens comerciais. Isso dará a deixa para o governo federal impor sobretaxas à importação de produtos chineses. Os atritos entre os governos americano e chinês têm-se multiplicado recentemente, tanto por motivos comerciais como por divergências políticas. A imposição de mais uma barreira aos produtos da China aumentará a tensão entre os dois países. Valerá a pena? Segundo os economistas Dan Newman e Frank Newman, será um lance inútil. Segundo eles, a China tomou o espaço do Japão e de outras economias da Ásia ao ampliar suas exportações para o mercado americano. Os Estados Unidos já eram amplamente deficitários e o aumento da presença chinesa não foi a grande causa de perdas para a indústria local. Entre 1995 e 2007, a participação japonesa na produção mundial de bens diminuiu 6 pontos porcentuais, enquanto a chinesa aumentou 7 pontos, de acordo com a argumentação. Dan Newman é um pesquisador econômico em Seattle. Frank Newman é o executivo principal do Banco de Desenvolvimento de Shenzen, uma instituição chinesa, e ex-secretário adjunto do Tesouro americano.Dificilmente essa argumentação mudará o ponto de vista do governo dos Estados Unidos. A administração americana tem amplo apoio internacional em sua tentativa de persuadir as autoridades chinesas a deixar o yuan valorizar-se. Nos últimos dias, economistas do Banco Mundial sugeriram polidamente uma alta de juros e uma política de câmbio mais flexível para o controle da inflação ? um problema ainda não muito grave. O diretor-gerente do FMI, Dominique Strauss-Kahn, tem defendido a adoção, pelo governo chinês, de uma estratégia de crescimento mais voltada para dentro e menos dependente de exportações. Uma inovação completa envolveria a alteração do câmbio, mas Strauss-Kahn não precisaria repetir o recado com todas as palavras.A valorização do yuan acabará ocorrendo, têm dito as autoridades chinesas, mas sem dar prazo. A mudança ocorrerá ? respondem aos americanos ? na hora escolhida pelo governo chinês. Por enquanto, o yuan continua oscilando juntamente com o dólar e neutralizando os movimentos da moeda americana. Talvez Dan Newman e Frank Newman estejam certos em relação aos Estados Unidos. Mas outros países ganharão, sem dúvida, se os chineses deixarem valorizar-se o yuan. O Brasil será um dos beneficiários. Mas o poder de competição da indústria chinesa não depende só do câmbio. Quem acreditar nisso cometerá um erro grave e perigoso.