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Cemitério de fábricas

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Por Redação
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Talvez soe exagerada a referência a um cemitério de indústrias para o qual a crise estaria empurrando um número crescente de fábricas. Os números, porém, não deixam dúvidas de que, sobretudo em regiões até há pouco de rápido crescimento e acelerada modernização econômica, aumenta o número de galpões abandonados que, para a população, vão se transformando em símbolos assombrosos da crise. No Estado de São Paulo, somente no ano passado, 4.451 fábricas fecharam as portas, ou 24% mais do que o total que encerrou as atividades em 2014, como mostrou reportagem de Cleide Silva publicada pelo Estado. Quanto ao tempo de operação das indústrias de transformação fechadas, a desgraça econômica é impiedosamente cega. Empresas tradicionais e outras que iniciaram suas operações no País há poucos anos estão sendo obrigadas a encerrar ou suspender suas atividades pelo agravamento da crise. Empreendimentos que pareciam exemplos de solidez e de garantia de futuro brilhante estão se desfazendo por falta de demanda, por custos elevados por causa dos juros e dos impostos, por escassez de investimentos e pelas incertezas políticas. Indústrias atuantes no mercado há mais de 80 anos e outras que, durante décadas, lideraram seu segmento integram a lista das que tiveram de paralisar as operações. Entre elas estão a metalúrgica Corneta – que iniciou as atividades como fabricante de artigos de consumo doméstico e fornecia componentes para fabricantes de motos –, cujos empregados foram informados em janeiro de que a fábrica seria fechada. Os funcionários não recebem salários desde dezembro e nada receberam pela rescisão de seus contratos. Instalada há 45 anos em Americana, período em que simbolizou o crescimento e a modernização da área próxima a Campinas, a indústria de filamentos de poliéster Polyenka chegou a empregar 2 mil pessoas, mas, em janeiro, ao encerrar suas atividades, tinha 350 empregados, com os quais fechou acordo para parcelar o pagamento das verbas rescisórias. Guarulhos, cujo crescimento populacional nas últimas décadas correspondeu à rápida expansão de seu parque produtivo, começa a enfrentar um índice considerado alarmante de fábricas fechadas. A reportagem do Estado mostrou que, apenas na penúltima semana de março, anunciaram o encerramento de suas operações no município as metalúrgicas Eaton, Maxion e Randon. “Estamos conhecendo um dramático ajuste feito via mercado sem anestesia”, diz o diretor de pesquisas econômicas da consultoria GO Associados, Fabio Silveira. No quadro atual, com o Produto Interno Bruto (PIB) em rápido declínio (encolheu 3,8% no ano passado; para 2016, a previsão é de nova queda, de cerca de 3,5%), “não tem como escapar do aumento do desemprego e do fechamento de empresas”. Ainda que os dois fenômenos – desemprego e fechamento de fábricas – possam ser interpretados como consequência natural da crise, seu custo social dificilmente poderia ser encarado com naturalidade. Somente entre novembro e janeiro, a indústria brasileira fechou 1,131 milhão de postos de trabalho, conforme a mais recente Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (Pnad) Contínua, do IBGE. Além da perda social, com o lançamento de tantas pessoas no desemprego em tão pouco tempo, há uma óbvia perda econômica, pois o País fecha os empregos que exigem maior qualificação e por isso, em geral, oferecem melhor remuneração e asseguram ganhos de competitividade para a economia. A pilhagem financeira de que foi vítima a Petrobrás – tomada de assalto por um grupo que canalizou seus recursos para partidos, políticos, funcionários e particulares – reduziu drasticamente sua capacidade de investimentos, o que afetou diferentes setores produtivos. A incompetência do governo Dilma e sua paralisia diante da crise política, econômica e moral decorrente de seus erros impedem os investimentos em infraestrutura. Sua permanência no poder tornaria ainda mais remota a saída da crise que envolve todo o País.