Imagem ex-librisOpinião do Estadão

Classe média global

Exclusivo para assinantes
Por Redação
3 min de leitura

Na primeira década do século 21, houve forte redução da pobreza global. Em 2001, 29% da população mundial estava nessa faixa de renda. Em 2011, o porcentual havia diminuído para 15%, com a saída de 669 milhões de pessoas dessa situação. No entanto, recente estudo do Pew Research Center indica que o surgimento de uma massiva classe média global ainda é uma realidade distante. A maioria da população do planeta (56%) continua sendo de baixa renda. Atualmente, apenas 13% da população mundial está na faixa de renda média.

A partir de dados de 111 países, que em 2001 representavam 88% dos habitantes do planeta, o estudo examina as mudanças na distribuição da renda pela população mundial entre 2001 e 2011, com especial foco na classe média global. A análise divide a população mundial em cinco grupos a partir da renda diária per capita - pobre (até US$ 2), baixa renda (US$ 2 a US$ 10), renda média (US$ 10 a US$ 20), renda média alta (US$ 20 a US$ 50) e alta renda (acima de US$ 50).

O foco na classe média deve-se ao reconhecimento de sua importância para o desenvolvimento econômico e social dos países, tanto os desenvolvidos quanto os que estão em desenvolvimento. Quando as pessoas são capazes de consumir e economizar mais, elas estão mais aptas a promover mudanças sociais e políticas de longo prazo. O estudo menciona também a evidência empírica de que, juntamente com a educação, a renda é um dos fatores determinantes para a qualidade das instituições políticas. E segundo o Pew Reserach Center, é a partir da renda de US$ 10 por dia que as pessoas ficam numa situação de segurança econômica mínima, que as protege de retornar com facilidade à pobreza.

Na primeira década do século 21, 385 milhões de pessoas ingressaram na faixa de renda média. Esse crescimento, no entanto, se concentrou em três regiões - China, América Latina e Europa Oriental. Entre 2001 e 2011, 203 milhões de chineses ultrapassaram a linha de US$ 10 de renda por dia. Já na América Latina, foram 63 milhões de pessoas a mais nessa faixa de renda, aumento este proporcionado - segundo o estudo - pela valorização das commodities e pelas políticas de redistribuição de renda. Em relação ao Brasil, constatou-se um aumento da população com renda média de 18% para 28%.

O Pew Research Center destaca que a Índia viveu processo distinto. Ainda que, entre 2001 e 2011, o porcentual da população pobre tenha se reduzido de 35% para 20%, o crescimento da classe média foi de apenas 2 pontos porcentuais - de 1% para 3%. Semelhante transformação foi observada em países africanos, como, por exemplo, a Etiópia. Lá, houve declínio de 27 pontos porcentuais na parcela de pessoas pobres, mas no grupo de pessoas com renda média houve um aumento de apenas 1%.

O estudo relata também que a Europa e a América do Norte continuam abrigando maciçamente as faixas de renda mais altas, com leve diminuição da diferença existente entre o restante do planeta na virada do século. Em 2001, 76% da população mundial de renda média alta (US$ 20 a US$ 50) vivia na Europa e na América do Norte. Em 2011, esse porcentual caiu para 63%. Em relação à população de alta renda, a taxa variou de 91% para 87%. O Pew Research Center reconhece, no entanto, que os países desenvolvidos também enfrentam problemas de desigualdade de renda e de pobreza, ainda que em cenários diferentes do das nações em desenvolvimento.

Certamente, possibilitar que as pessoas saiam da pobreza é um importante passo para o desenvolvimento social. Mas é apenas o primeiro passo, já que na faixa de baixa renda continua-se num estado de vulnerabilidade social. Não basta “subsistir”, é preciso “viver”, dispondo ao menos de um mínimo de segurança econômica, que proporcione condições de realizar escolhas vitais básicas, ter acesso a uma educação de qualidade, etc. Para tanto, um olhar sobre o crescimento da classe média pode ser um instrumento muito útil na formulação de políticas públicas adequadas. Há ainda, como se vê, muito a fazer.