Imagem ex-librisOpinião do Estadão

Consumidor ainda cauteloso

Se há algo para comemorar é simplesmente a continuada melhora dos indicadores de humor

Exclusivo para assinantes
Por Redação
2 min de leitura

O consumidor anda mais animado e mais disposto a voltar às compras, mas ninguém deve apostar numa firme reativação do varejo antes de muitos meses. As perspectivas do emprego ainda são muito ruins e principalmente por isso a recuperação do consumo deverá ocorrer em marcha lenta. Estas conclusões são indicadas por duas novas pesquisas sobre expectativas e intenções do consumidor, divulgadas pela Confederação Nacional do Comércio (CNC) e pela Fundação Getúlio Vargas (FGV). Se houver algum crescimento econômico em 2017, o impulso mais importante deverá provir de outra fonte. Este é um excelente motivo – entre vários – para o governo avançar com rapidez nos projetos de infraestrutura, os mais adequados, por enquanto, para estimular o investidor privado a tirar do bolso o talão de cheques.

Se há algo para comemorar, neste momento, é simplesmente a continuada melhora dos indicadores de humor, embora permaneçam abaixo do limite entre o otimismo e o pessimismo. Depois de seis altas consecutivas, o índice de expectativa elaborado pela FGV chegou a 82,4 pontos, o ponto mais alto desde dezembro de 2014, quando atingiu 86,6. O componente relativo à situação financeira da família subiu 1,4 ponto e chegou a 63,6 pontos, o maior nível desde fevereiro, mas ainda muito distante da linha de indiferença, correspondente a 100 pontos.

A melhora financeira havia sido apontada em setembro numa pesquisa da CNC sobre endividamento e inadimplência. A parcela de famílias endividadas, de 58,2%, era ligeiramente maior que a de agosto, mas bem menor que a de um ano antes, quando havia chegado a 63,5%. Para um grupo bem menor, no entanto, as dificuldades haviam aumentado. Em setembro, 9,6% das famílias disseram-se incapazes de pagar as dívidas. Esse grupo correspondia a 9,4% em agosto e a 8,6% em setembro de 2015.

No conjunto, a redução do endividamento foi uma penosa adaptação à piora das condições de crédito. Muitas famílias trataram de pôr em dia suas contas e ficaram longe, por impossibilidade ou por prudência, de novos financiamentos. O aperto continuou neste ano. No mês passado, a relação entre o estoque do crédito e o Produto Interno Bruto (PIB) ficou em 50,8%, segundo informou ontem o Banco Central (BC). Um ano antes estava em 54% – e o PIB, apesar da recessão, ainda era maior, porque a contração dos negócios continuou.

Em outubro, a intenção de consumo das famílias foi 2,4% mais alta que a do mês anterior, mas 5,7% inferior à de um ano antes, segundo a última sondagem da CNC. Todos os grupos continuam pessimistas, isto é, com intenção de consumo abaixo de 100 pontos. Mas o humor varia entre os grupos de renda. O índice das famílias do grupo superior chegou a 83,7 pontos em outubro. O das demais atingiu 72,1.

A maior parte dos consumidores, portanto, levará mais tempo para voltar às compras, especialmente de produtos de maior valor, porque nesse caso será necessário um novo endividamento. No cálculo geral, o item “momento para duráveis” aumentou 3,4% de setembro para outubro, mas ficou 10,2% abaixo do patamar verificado um ano antes. Neste momento, só com enorme otimismo alguém poderia avaliar a baixa de juros iniciada pelo BC como um sinal de reativação das compras a crédito nos próximos meses. Os juros básicos permanecem muito altos. Ainda terão de cair muito mais até as condições de financiamento se tornarem de novo atraentes para o consumidor.

De acordo com várias instituições, as expectativas dos consumidores melhoram – ou ficam menos negativas – há meses. Apesar disso, os indicadores do varejo têm continuado em queda. Em agosto, segundo o último relatório do IBGE, o volume vendido pelo varejo restrito foi 0,6% menor que o de julho e 5,5% inferior ao de um ano antes. No varejo ampliado (com inclusão de veículos, componentes e material de construção), a queda mensal foi de 2%. Na comparação com agosto de 2015 a diferença para menos foi de 7,7%. Não se confunda menor pessimismo como entusiasmo.