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Cresce o mercado formal

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Por Redação
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Com emprego, renda e crédito acessível, cada vez mais trabalhadores compram a moradia no mercado formal, abandonando a autoconstrução, segundo estudo do Sindicato da Construção Civil do Estado de São Paulo (Sinduscon-SP). É uma mudança relevante no segmento imobiliário, com impacto na atividade econômica, na arrecadação de tributos e no mercado de trabalho. As construtoras, que em 2003 respondiam por 44% do PIB da construção civil, hoje respondem por 65%. Já a participação da autoconstrução no PIB declinou de 56% para 35%, calcula a professora Ana Maria Castelo, da Fundação Getúlio Vargas, que coordenou o estudo. O ambiente de negócios favoreceu a formalização da atividade imobiliária e o aumento da escala de produção das construtoras. Em 2007, muitas levantaram recursos abrindo o capital em bolsa para comprar terrenos e construir mais imóveis, submetendo-se a controles rigorosos. As prestações de contas a acionistas brasileiros e estrangeiros, inclusive fundos globais de investimento, são trimestrais e a transparência dos dados é um requisito absoluto. Além das grandes construtoras de capital aberto, também ampliaram suas operações as pequenas empresas do setor, segundo a pesquisa. Para ter acesso ao crédito da Caixa Econômica Federal (CEF) e construir no âmbito do programa oficial de habitação popular elas precisam formalizar suas atividades. "O grande impulso veio das moradias das famílias, porque a outra parte (obras de infraestrutura) sempre foi formal", enfatizou Ana Castelo.A contratação de mão de obra formal passou a predominar, ao contrário dos tempos de predomínio da autoconstrução, em que as famílias reuniam recursos para construir "puxadinhos", com o auxílio de um pedreiro ou de um mestre de obras. As estatísticas do Ministério do Trabalho mostram que as atividades da construção civil foram as que mais contrataram empregados formais.A disponibilidade de crédito também contribuiu para a formalização, segundo o vice-presidente do Sinduscon-SP, Eduardo Zaidan. "Antes não havia financiamento e as famílias tinham de fazer a casa por conta própria." E, como notou um diretor de construtora, "crédito farto e juros em queda provocaram essa mudança entre a formalidade e a informalidade na construção".A tendência de mudança do perfil das aquisições de insumos para a construção civil é confirmada pelo presidente da Associação Brasileira da Indústria de Materiais de Construção, Walter Cover.Em 2004, o valor adicionado à economia pelas empresas construtoras cresceu 27%, chegando a 28%, em 2007 e a 18,5%, em 2009, segundo o estudo da FGV. Sem um crescimento tão forte, o PIB da construção teria avançado pouco, pois o chamado "consumo formiga" - que inclui a autoconstrução e as obras realizadas por autônomos - declinou em cinco de seis anos analisados, de 2004 a 2009. Em 2007 e 2009, o declínio atingiu, respectivamente, 8,9% e 8,8%.Em 2011, o ritmo da atividade da construção civil foi inferior ao de 2010, segundo os dados do sindicato da construção (Secovi). "Existe uma acomodação natural", observou o novo presidente do Secovi, Claudio Bernardes, em sua posse, segunda-feira. "As vendas caíram em relação a 2011, mas desde 2006 têm crescido", declarou ao Estado (13/2). O crescimento do setor imobiliário tende a acompanhar o ritmo da economia brasileira, afirmou Bernardes.A formalização crescente da atividade imobiliária traz benefícios a todos - consumidores, trabalhadores, construtoras, bancos e governo. Trabalhadores sem renda não têm acesso ao mercado de moradias, que exige um bom cadastro aceito pelos bancos. Construtores informais não têm acesso a crédito, além de correrem o risco de enquadramento por órgãos públicos em operações de fiscalização. Nos bancos, o crédito imobiliário tem importância crescente.A formalização da construção tem tudo a ver com isso.