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Demissão e empobrecimento

Continuam piorando as condições no mercado de trabalho, com mais pessoas em busca de ocupação e menos dinheiro disponível para um número crescente de famílias

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Por Redação
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Continuam piorando as condições no mercado de trabalho, com mais pessoas em busca de ocupação e menos dinheiro disponível para um número crescente de famílias. A recuperação da economia será muito lenta se depender do consumo e o sacrifício ainda será prolongado para muitos milhões de brasileiros. Se quiser movimentar os negócios mais rapidamente, o governo terá de apressar os contratos para obras de infraestrutura e, se possível, trabalhar pela reativação dos programas habitacionais. Obras públicas e construções de residências podem ser uma boa alavanca para a abertura de postos de trabalho e para a dinamização do varejo. Mais dinheiro poderá ajudar, mas o retorno das famílias às compras também dependerá da recuperação da confiança.

O desemprego aumentou para 11,6% da força de trabalho no trimestre encerrado em julho, segundo informou na terça-feira passada o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A taxa havia chegado a 11,3% no período de abril a junho. Com a variação, o número de pessoas desocupadas passou de 11,59 milhões para 11,85 milhões. Os números são da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua, atualizada mensalmente. A referência temporal é sempre um trimestre móvel. Desde janeiro esse levantamento, realizado em 3.464 municípios, substituiu pesquisa tradicional do IBGE, limitada às 6 maiores áreas metropolitanas.

O rendimento médio habitual dos trabalhadores ficou em R$ 1.985 no último período, com variação praticamente nula em relação ao apurado no levantamento anterior. Mas foi 3% inferior ao do trimestre maio-julho de 2015. Essa mesma comparação indicou uma queda de 4% na massa de rendimento real conseguida habitualmente em todos os trabalhos. O poder de compra continua, portanto, bem abaixo do estimado um ano atrás, mas é preciso levar em conta outro fato para avaliar o efeito da crise sobre o consumo. Nesse intervalo, o número de pessoas desocupadas aumentou de 8,62 milhões para 11,59 milhões. Cresceu, portanto, o contingente sem rendimento normal do trabalho, com o consequente empobrecimento de mais famílias.

O número de trabalhadores por conta própria, 22,6 milhões, foi 2,4% maior que o verificado no trimestre de maio a julho do ano passado, mas 1,5% menor que o contado no período de fevereiro a abril deste ano. Convém prestar atenção a este dado.

O trabalho por conta própria é com frequência apontado, mesmo por especialistas em recursos humanos, como alternativa à relação de emprego. Pode dar certo em alguns casos, mas ninguém deveria iludir-se. A crise econômica é um fenômeno de amplo alcance e atinge tanto os assalariados quanto os microempreendedores individuais. Se as soluções particulares valessem para todos, seria fácil a solução de problemas macroeconômicos, como recessão e inflação.

No caso brasileiro, o empobrecimento causado pelo desemprego é ainda agravado pela inflação muito mais alta que a da maior parte dos países desenvolvidos e em desenvolvimento. Nos cenários mais frequentes, na maior parte do mundo, recessão e inflação dificilmente coexistem. No Brasil, as famílias afetadas pelo desemprego de um ou de vários membros ainda têm de enfrentar uma acelerada alta de preços. Mês a mês seu orçamento é erodido pelo encarecimento dos bens e serviços – com frequência, essenciais, como remédios e alimentos.

Em agosto, o Índice Geral de Preços-Mercado (IGPM) subiu 0,15%, menos que no mês anterior (0,18%), mas essa melhora pouco significa para as famílias. Esse indicador é formado por três componentes: um índice de preços por atacado, um de preços ao consumidor e um de custos da construção. O aumento do índice de preços ao consumidor passou de 0,29% em julho para 0,40% em agosto, puxado por itens como alimentação e transportes. A criação de um quadro de recessão com inflação é uma das façanhas do governo da presidente Dilma Rousseff.