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Desafios da competitividade

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Por Redação
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O País não vive uma situação fácil - está em recessão técnica, a inflação bate no teto da meta, os juros sobem, a política fiscal perde credibilidade, denúncias de corrupção envolvem a maior estatal brasileira. O momento atual faz reviver a famosa frase, atribuída a Tom Jobim, de que "o Brasil não é para principiantes". Com a finalidade de oferecer um espaço de discussão sobre os rumos para se reverter essa situação - especialmente em relação à indústria -, o Grupo Estado, com apoio da Confederação Nacional da Indústria, promoveu um novo evento da série Fóruns Estadão Brasil Competitivo, no qual especialistas discutiram o atual cenário, suas causas e possíveis medidas para atingir um novo patamar de crescimento. Um dos consensos a que chegaram os participantes do encontro foi a importância do setor industrial para a retomada do crescimento nacional. A indústria concentra boa parte dos avanços tecnológicos, tem os produtos de maior valor agregado e é o setor que reúne os empregos de melhor qualificação. Abrir mão de um setor industrial forte é abdicar de um crescimento sustentável no longo prazo. No entanto, o Brasil vive um paradoxo, segundo afirma José Roberto Mendonça de Barros, sócio da consultoria MB Associados. Nunca se fez tanta política para a indústria - desonerações, crédito subsidiado, operações de participação do BNDESPar em grande escala, etc. - e, ao mesmo tempo, nunca a crise do setor foi tão grande. A indústria vem perdendo participação no Produto Interno Bruto, tem fechado vagas de emprego e as perspectivas de curto e de médio prazos não são alvissareiras. "O crescimento de 2015 já está comprometido qualquer que seja a política econômica adotada. O que está em jogo para a indústria é 2016", afirmou Mendonça de Barros. Segundo Pedro Passos, presidente do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), a causa da crise da indústria está na política macroeconômica. "Mesmo que tenhamos propostas no âmbito da indústria, se não acertarmos a parte macroeconômica, não haverá política suficiente para recuperar o setor", concluiu Passos. No evento, a percepção era de que já não há mais espaço para o governo federal cometer os mesmos erros do primeiro mandato. "De 2004 a 2011, não era tão custoso cometer esses erros. A grande questão agora é se as políticas vão mudar e como os erros serão tratados", afirmou Armando Castelar, coordenador de economia do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (Ibre/FGV). Para que a indústria brasileira recupere a sua competitividade - e possa voltar a crescer -, um dos temas que o governo precisará enfrentar é a ampliação de acordos comerciais e a redução de instrumentos de proteção, que acabam tendo o efeito colateral de desestimular o investimento em inovação. Luiz Fernando Furlan, ex-ministro do Desenvolvimento, foi enfático: "O Mercosul está estagnado, talvez esteja na hora de o Brasil declarar independência do grupo". Segundo ele, países vizinhos - como o Peru, por exemplo - "nadam de braçada", enquanto o Brasil patina nas relações comerciais internacionais. Um exemplo citado no evento foi o fato de que, das 500 maiores multinacionais do mundo - que respondem por dois terços do comércio global -, 400 já atuam no País. No entanto, essas empresas não têm incentivos para acessar outros mercados, limitando-se ao mercado interno. Como se vê, há um razoável consenso a respeito dos desafios e reformas que o Brasil precisa enfrentar no momento para voltar a ser competitivo. O grande ponto de interrogação recai sobre a forma como Dilma Rousseff levará adiante o seu segundo mandato. Por exemplo, a sua real disposição em cortar gastos públicos, depois de quatro anos aumentando despesas. Talvez seja por isso que a indústria não venha apostando suas fichas em 2015, e só espere uma retomada para 2016. Mais do que o receio de um aperto econômico para o próximo ano, o que parece preocupar são as indefinições a respeito da política macroeconômica, depois de seguidos erros - que são, em boa medida, a causa da crise atual.