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Descendo a ladeira

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Por Redação
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Com uma previsão de queda de 20% no mercado de caminhões este ano, a Mercedes-Benz, depois de negociações que vinham sendo conduzidas com o Sindicato de Metalúrgicos do ABC desde fevereiro, concluiu um acordo para a suspensão temporária do contrato de trabalho de 1.500 funcionários de sua fábrica no ABC paulista por cinco meses. Esta é a primeira vez, em seus 50 anos no Brasil, que a empresa alemã recorre a esse mecanismo em vigor no País desde 1998, constituindo uma das raras inovações introduzidas na legislação trabalhista brasileira até hoje, tendo sido utilizada em 1999 e em 2008 por outras empresas do setor. A suspensão temporária de contrato de trabalho, internacionalmente conhecida como layoff, evita demissões de funcionários em períodos de desaquecimento da economia e não reduz os salários, que passam a ser pagos, em parte, com recursos do Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT), sendo garantidos direitos como o 13.º salário e o reajuste salarial na data-base da categoria. Antes disso, a Mercedes já havia recorrido a férias coletivas e licenças remuneradas para contornar a retração da demanda e esquemas semelhantes têm sido adotados por outras fábricas de caminhões, como a Scania (suspensão de produção por 20 dias), Ford (contabilização de períodos ociosos em um banco de horas) e Volvo (férias coletivas por 20 dias). O pressuposto é de que a crise que atinge o setor seja de curta duração e que as vendas possam retornar à normalidade no segundo semestre.A situação é crítica não só para as montadoras de caminhões, que estão com estoques para 40 dias de giro, como para toda a cadeia produtiva. Fornecedores também deram férias coletivas e alguns se viram obrigados a fazer cortes na folha. Mas todos continuam apostando em uma recuperação relativamente rápida, apesar do baixo nível de atividade no mercado interno. O governo tem procurado ajudar, embora de forma bastante diferente da que utilizou para o setor de automóveis de passageiros. De 22 de maio até o fim de agosto, foi concedida isenção de IPI ou redução sensível do imposto para aquisição de carros novos, além de redução do IOF em operações de crédito específicas, a fim de possibilitar a desova de estoques acumulados pelas montadoras. No caso dos caminhões, foi ampliado o prazo de financiamento pelo BNDES/Finame para 120 meses no Programa Procaminhoneiro, mantidos os juros em 5,5% ao ano. Para empresas de transporte, os juros dos empréstimos para compra de veículos pesados foram reduzidos de 7,5% para 5,5% ao ano, com prazo máximo de 60 meses. É nessas novas condições, principalmente, que a indústria de caminhões deposita suas esperanças. Mas enquanto existe demanda para a compra de carros, não obstante o aumento do nível de endividamento das famílias, as vendas de caminhões estão na estreita dependência do nível de atividade. Acresce que milhares de caminhoneiros autônomos não dispõem de garantias reais para poder credenciar-se aos financiamentos do BNDES/Finame, que são utilizados, em sua maior parte, pelas empresas de transporte.O ânimo no setor, porém, permanece elevado. "Estamos mais otimistas com o que vem pela frente do que pensando no que aconteceu nos últimos cinco meses", disse Antonio Roberto Cortes, presidente da MAN, proprietária da marca Volkswagen (Valor, 30/5). Apesar de a fábrica da empresa em Resende (RJ) estar se preparando para dar férias coletivas de duas semanas a seus funcionários, Cortes garantiu que será mantido o programa de investimento de R$ 1 bilhão da MAN no Brasil. Essa atitude talvez se explique pela constatação de que a frota de caminhões é muito velha e, mais dia menos dia, terá de renovar-se. Segundo pesquisa da Agência Nacional de Transportes Terrestres, a idade média dos caminhões de diversos tipos, de motoristas autônomos, que circulam pelo País, é de 19,1 anos. A idade média dos caminhões de empresas baixa para 8,4 anos, um nível ainda considerado alto, especialmente para um país como o Brasil, cuja atividade econômica depende principalmente do transporte rodoviário.