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Descompasso educacional

Até 2020, a indústria brasileira demandará a qualificação de 13 milhões de trabalhadores, indica estudo do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai)

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Por Redação
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Até 2020, a indústria brasileira demandará a qualificação de 13 milhões de trabalhadores, indica estudo do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai). Apesar da mão de obra ociosa – o País tem hoje mais de 12 milhões de desempregados – e da baixa atividade econômica, faltam profissionais qualificados no mercado, o que mostra o descompasso entre a educação oferecida e as necessidades reais do País.

O objetivo do estudo Mapa do Trabalho Industrial 2017-2020 é fornecer subsídios para que o Senai possa planejar a oferta de cursos de formação profissional nos próximos anos. A instituição já formou, desde 1942, 68 milhões de trabalhadores. Atualmente oferece 3,4 milhões de vagas, por ano, em seus cursos. O estudo também serve como indicador das oportunidades de emprego para os próximos anos.

A maior demanda nos próximos três anos refere-se a empregos que exigem qualificação de até 200 horas. São 7,199 milhões de postos de trabalho nessa categoria. Em seguida estão as ocupações com qualificação superior a 200 horas, a exigir 3,348 milhões de profissionais. O estudo estima que a demanda por formação de nível técnico será de 1,83 milhão de vagas; e a referente ao nível superior, de 625,4 mil vagas.

De acordo com o estudo, a área que mais demandará formação profissional nos próximos três anos é a Construção, com a solicitação de 3,8 milhões de trabalhadores qualificados. Em seguida, está a área “Meio Ambiente e Produção”, requerendo a qualificação de 2,4 milhões de profissionais. O expressivo número é, em parte, consequência da nova legislação ambiental, a exigir das empresas um maior controle sobre os impactos ambientais de seus processos produtivos.

Outras áreas com forte demanda por trabalhadores qualificados são: Metalmecânica (1,7 milhão), Alimentos (1,2 milhão), Vestuário e Calçados (974.592), Tecnologias da Informação e Comunicação (611.241), Energia (661.619), Veículos (435.742), Petroquímica e Química (327.629) e Madeira e Móveis (258.570).

O Senai adverte que esses números não se referem necessariamente a novas vagas. Trata-se de uma estimativa da demanda por formação profissional, na qual se inclui a requalificação de profissionais empregados. Segundo o estudo, 72% dessa demanda se refere à requalificação de 9,4 milhões de profissionais, e o restante está relacionado a 3,6 milhões de novos empregos (28%).

A necessidade por profissionais capacitados em ocupações industriais acompanha a participação das regiões no Produto Interno Bruto (PIB), indica o estudo. A região que mais demandará profissionais qualificados entre 2017 e 2020 é a Sudeste (6,75 milhões de trabalhadores), seguida da Sul (2,67 milhões), Nordeste (1,98 milhão), Centro-Oeste (0,96 milhão) e Norte (0,68 milhão).

Ao apontar as tendências dos próximos anos, o Senai menciona um otimismo moderado e prevê recuperação econômica a partir de 2017. Ressalta, no entanto, que a velocidade entre a conversão das expectativas em produção e emprego dependerá principalmente da aprovação das reformas trabalhista e previdenciária.

Apesar de a educação profissional ser considerada o caminho mais curto para a inserção no mercado de trabalho, no Brasil ainda é baixa a procura por esse tipo de formação. O Censo de Educação Básica de 2015 indica que apenas 11,1% dos alunos se encaminham para a formação profissional. O porcentual contrasta fortemente com os índices de países desenvolvidos: Áustria (76,8%), Finlândia (69,7%), Alemanha (51,5%), Espanha (44,6%), França (44,3%) e Portugal (38,8%).

Alinhar a formação profissional com as oportunidades de emprego não é submeter a educação a uma perversa lógica do mercado. É simplesmente respeitar a expectativa de todo aluno, que, com razão, espera que seus anos de aprendizado não sejam mero diletantismo, e possam capacitá-lo para um trabalho profissional. Descompassos nessa área têm alto custo econômico e social.