Imagem ex-librisOpinião do Estadão

Desemprego vistoso

Exclusivo para assinantes
Por Redação
2 min de leitura

Desemprego em alta e produção em baixa são duas das marcas mais vistosas da economia nacional neste ano. Nem o governo, nesta altura, deve desconhecer a gravidade da crise, embora tenha sido, por muito tempo, o último a admitir os mais sérios problemas. Na sexta-feira deve ser divulgado o Produto Interno Bruto (PIB) do segundo trimestre. Será uma enorme surpresa se os números indicarem algum crescimento em relação ao período de janeiro a março. Todas as informações parciais indicam atividade em queda, maior desajuste nas contas públicas e demissões crescentes. Em um ano os desocupados aumentaram de 6,8% para 8,3% da força de trabalho, ou de 6,77 milhões para 8,35 milhões de pessoas. Os números, apurados no segundo trimestre de 2014 e no segundo deste ano, são da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad). Esse levantamento, realizado em 3.464 municípios, cobre períodos trimestrais e é o retrato mais amplo das condições do mercado de trabalho. 

Outra pesquisa, tradicional, só atinge as seis maiores áreas metropolitanas e normalmente apresenta resultados menos feios. Mas nem esses, agora, permitem à presidente Dilma Rousseff manter as bravatas sobre o nível de ocupação no País. Esse levantamento mais limitado apontou desemprego de 7,5% em julho. As duas pesquisas são do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Por qualquer das duas medidas, o desemprego no Brasil é hoje muito maior que o americano (5,3%), o do Reino Unido (5,6% em abril), o alemão (4,7%) e o da Holanda (6,9%). Também supera as taxas de outros oito países da União Europeia, a do Japão e as de vários emergentes, como o México (4,4% em maio). 

Os dados da indústria, tanto da produção quanto do investimento e das expectativas dos empresários, mostram um cenário de crise sem perspectiva de melhora ainda por muitos meses. De janeiro a junho o setor produziu 6,3% menos que no primeiro semestre do ano anterior. Em 12 meses a contração chegou a 5%. Estes são números do IBGE. Em agosto, o índice de confiança do empresário industrial, medido pela Confederação Nacional da Indústria (CNI), ficou em 37,1 pontos, 9,4 abaixo do registrado um ano antes. Números abaixo de 50 indicam avaliação negativa e, portanto, pouca disposição de investir na ampliação da capacidade produtiva. 

No setor produtivo, só a agropecuária apresenta sinais positivos, mas insuficientes para alterar o balanço geral da economia. Além disso, mesmo agricultores têm revelado pouca ou nenhuma inclinação para a compra de equipamentos. De janeiro a julho, as vendas de máquinas agrícolas e rodoviárias contabilizadas pelas montadoras foram 27,2% menores que as de um ano antes. Isso se explica também pela quase paralisia dos programas governamentais de infraestrutura. 

À primeira vista, os saldos do comércio exterior e da conta corrente do balanço de pagamentos parecem contrastar com o amplo conjunto de dados negativos. As contas externas em geral melhoram em fases de recessão, quando os empresários buscam mercados fora do país, e as importações declinam, por causa da menor demanda. Mas desta vez a história é diferente – e pior. 

Segundo o Banco Central, de janeiro a julho houve superávit de US$ 3,37 bilhões na conta de mercadorias – uma melhora em relação ao ano anterior. Mas isso ocorreu só porque as importações, 19,54% menores que as de um ano antes, diminuíram mais que as exportações (com redução de 15,8%). As contas de serviços e de rendas também melhoraram, refletindo a combinação de renda menor e custos maiores impostos pelo dólar caro.

No conjunto, o déficit em transações correntes passou de US$ 58,33 bilhões em janeiro-julho de 2014 para US$ 44,09 bilhões em 2015. O acumulado em 12 meses, um buraco de US$ 89,36 bilhões, ou 4,34% do PIB, continuou muito amplo. O resultado do ano deve ser mais equilibrado que o de 2014, mas, sem ganhos de eficiência, a economia continuará em desvantagem no mercado internacional.