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Opinião|Dilma passou, mas com dependências

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Amplio imagem criada por Rubens Ricupero em artigo na Folha de S.Paulo (10/11). Assim ele avaliou o resultado da eleição presidencial: "... o governo não venceu, apenas repetiu de ano. Ou melhor, passou com nota raspando. Passou com um cacho interminável de dependências". Professores lidam com alunos repetentes de ano ou promovidos com umas poucas dependências, as "depês". Alguns também costumam carregar temperamento mais propenso a justificar erros do que a corrigi-los. Cursando Presidência da República, Dilma passará ao segundo mandato com excesso de dependências, e com aprovação em larga medida dada por eleitores-professores que se consideram dependentes dela. Mas, sem aprender com erros, comporta-se mais como uma professora mandona. Bons professores se pautam por uma frase de Ruy Barbosa: "Professor nunca o fui; aluno, prezo-me de sê-lo". Ela tampouco se coloca como aluna, para perceber que o aprendizado precisa ser permanente e indispensável para ensinar. E, também, admitindo erros, pois trazem lições na direção dos acertos. No seu magistério costuma lecionar e aplicar teorias mal sustentadas empiricamente, às vezes recebidas de "amigos" que professam, entre outras coisas, que o crescimento econômico vem essencialmente da ampliação da demanda. E equivocadamente se ancoram num economista, Keynes. Este se tornou famoso ao analisar as circunstâncias de uma depressão econômica, num livro de 1936, sua Teoria Geral. Nele enfatizou essa ampliação como saída, mas como política de curto prazo, sem tratar do crescimento econômico sustentável no médio e no longo prazos. Noutras obras, entretanto, abordou o assunto, como em 1930 no texto Possibilidades econômicas para nossos netos, em que disse que a "...dade moderna se abriu (...) com a acumulação de capital (...) e o crescimento foi impulsionado pelo poder da acumulação (de capital) e rendimentos compostos". Ou seja, com os rendimentos se acumulando e gerando novos rendimentos (tradução minha). Modernamente o capital tem dimensões que incorporam, além de ativos fixos e financeiros, a tecnologia e o "capital humano", este acumulado mediante educação e treinamento. A acumulação de capital se dá por investimentos que geram demanda sustentável, mediante pagamentos a fatores de produção, como os trabalhadores que com seus gastos estimulam a produção de outros bens e serviços, multiplicando o efeito do investimento inicial. No Brasil, o modelo dilmista enfatizou a ampliação da demanda dos consumidores via crédito e, assim, esbarrou no fato de que eles se endividam e acabam se retraindo nos seus gastos, como ocorre hoje. Na ação governamental, também expandiu mais gastos de consumo do que investimentos, interveio em vários mercados e segue gestão fiscal temerária, o que gerou um quadro de perplexidade e incertezas que desestimula os investimentos privados. Examinemos agora a gestão econômica de Dilma olhando suas "depês". Em Política Fiscal, foi reprovada por sua criatividade ao transformar resultados negativos em "positivos". Em Economia Internacional, a reprovação veio de uma prova em que recebeu contas externas equilibradas e lhes deu direção contrária. Em Política Anti-inflacionária, achou que a inflação vinha de aumentos transitórios de preços, ignorando fatores responsáveis por seu agravamento persistente. Em Gestão Setorial, suas respostas causaram dificuldades a setores importantes, com destaque para o de petróleo, o sucroenergético e o elétrico. Com mais quatro anos para arrumar seu histórico escolar com essas e outras "depês", só há uma saída. Recorrer a professores hoje fora do governo e de notória competência, para tomar aulas, reconhecer seus erros e mudar suas práticas, da mesma forma que estudantes buscam professores particulares nessas circunstâncias. Não precisam ser muitos, ao contrário dos 39 ministros que a assessoram, sem chance de falar sequer dez minutos nas reuniões ministeriais, com o que elas tomariam seis horas e meia. Nem de realizar reunião mensal com a presidente que durasse uma manhã ou uma tarde, pois isso absorveria perto de 20 dias da agenda presidencial mensal. Dilma sempre posou de gerentona, mas no filme presidencial também se mostra mandona e centralizadora. Assim, Gestão Governamental também caberia no curso que faz ou noutro de especialização. Ao final, ao deixar esse curso, o que faria? Uma pista está no conselho que deu a uma colega economista, cearense e desempregada, que no último debate eleitoral, o da Rede Globo, foi aconselhada a procurar o Pronatec. Confesso que me surpreendi com o conselho, pois imaginava que esse programa fosse focado no nível médio, mas vi no seu site que também oferece cursos "superiores de tecnologia, licenciaturas e programas de pós-graduação". Mas teria de mudar de área, pois não vi nada de Economia. Ricupero também contou que em janeiro de 1985 acompanhou Tancredo Neves numa viagem ao exterior, logo após a eleição deste para presidente. Ao passar pela Espanha, Tancredo perguntou ao então primeiro-ministro do país, Felipe González, qual era o segredo do sucesso de seu governo. A resposta: "Escolha um bom ministro da Economia e 80% de seus problemas estarão resolvidos". Com a economia brasileira do mau jeito em que está, tal conselho faz sentido, ainda que talvez exagerado nos 80%. Sem uma nova e competente equipe econômica, e a disposição de delegar a essa equipe a tarefa de arrumar a economia, Dilma corre o risco de terminar seu segundo mandato sem aprovação. E, também, de não ter aprovação eleitoral para voltar depois de quatro anos fora, o que equivaleria a uma jubilação, ou seja, à impossibilidade de se matricular novamente no curso que mal faz, esse de Presidência da República. *Roberto Macedo é economista (UFMG, USP e Harvard) e consultor econômico e de ensino superior 

Opinião por Roberto Macedo