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Economia em convalescença

Nesse ambiente, podem subir ao mesmo tempo os indicadores de confiança do setor industrial e de incerteza econômica

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Por Redação
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O Brasil está em convalescença econômica e exibe os sinais de reanimação e de insegurança normais no começo de recuperação de uma longa doença. Essa mistura continua aparecendo em sondagens divulgadas por entidades oficiais e por instituições privadas de pesquisa. Nesse ambiente, podem subir ao mesmo tempo os indicadores de confiança do setor industrial e de incerteza econômica – estes detectados na leitura da imprensa e na observação dos mercados financeiro e de capitais. As duas informações foram divulgadas no mesmo dia pela Fundação Getúlio Vargas (FGV). De acordo com a notícia positiva, o índice de confiança da indústria aumentou 2,9 pontos em março e atingiu 90,7 pontos, mais que compensando o recuo de 1,2 ponto no mês anterior. Segundo a negativa, o índice de incerteza chegou a 122,7 pontos, também neste mês, com elevação de 3,9 pontos.

A melhora de humor na indústria foi observada tanto na avaliação do quadro atual como nas expectativas. A normalização do nível de estoques, depois de longa acumulação, é sinal de melhora do ambiente. Aumentou em março o número de executivos mais satisfeitos com os estoques e também o daqueles mais otimistas quanto ao ritmo de produção nos próximos meses.

O aumento da confiança foi notado em 17 dos 19 segmentos cobertos pela pesquisa mensal. Parece consolidar-se, entre os consultados, a imagem de um setor em recuperação, já apontada por sondagens da Confederação Nacional da Indústria (CNI).

O outro indicador publicado pela FGV combina três componentes. O primeiro é baseado na frequência de notícias com menção à incerteza econômica. O segundo reflete a dispersão das previsões para o câmbio e para a inflação. O terceiro resulta da instabilidade do mercado financeiro e de capitais.

A elevação do índice de incerteza foi provocada pela piora dos dois primeiros componentes. Só o terceiro – o comportamento do mercado de capitais – denotou algum ganho de confiança nas perspectivas de curto prazo. A insegurança política e a difícil negociação dos ajustes e reformas com certeza explicam boa parte da piora dos outros indicadores de incerteza, com alguma contribuição do cenário externo.

Outros indicadores também mostram as características de início de convalescença. As vendas de papelão ondulado, usado em embalagens, foram em fevereiro 3,06% maiores que as de um ano antes, mas 7,09% menores que as de janeiro. No primeiro bimestre, as vendas superaram por 4,23% as de janeiro e fevereiro de 2016. O mesmo indicador mostra uma evolução positiva em relação ao ano anterior e uma perda momentânea de impulso.

Sinais positivos apareceram também nas fábricas de máquinas e equipamentos. O faturamento das empresas do setor cresceu 14,5% de janeiro para fevereiro, em consequência do aumento de 5,8% das vendas no mercado interno e da elevação de 36,2% das exportações. A melhora dos números foi atribuída em parte à sazonalidade e em parte à recuperação dos negócios internos. O uso da capacidade instalada passou de 67,5% em janeiro para 68% no mês passado, segundo o relatório divulgado pela associação do setor, a Abimaq. Apesar dos indicadores positivos, é cedo para se confirmar uma retomada dos investimentos.

Os dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) são geralmente um pouco mais atrasados. Os do setor de serviços, ainda de janeiro, apontam uma retração de 2,2% em relação ao volume de dezembro. Na comparação com os números de janeiro de 2016 apurou-se uma queda de 7,5%. Em 12 meses, a queda acumulada chegou a 5,2%. A reativação dos serviços dependerá de uma recuperação mais firme de outras atividades, como a produção industrial, e da melhora da renda e da perspectiva dos consumidores.

Novos dados do crédito mostram elevação de 0,1% dos financiamentos a empresas em fevereiro, com sinais de estabilização no conjunto das operações, depois de queda prolongada. É mais um componente do quadro de convalescença.