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Emergência na Europa

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Por Redação
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Haverá motivo de sobra para comemoração, e não só na Europa, se a reunião de cúpula da União Europeia, marcada para hoje e amanhã em Bruxelas, garantir uma razoável sobrevida ao euro e tirar do sufoco os governos mais endividados. A chanceler alemã, Angela Merkel, e o presidente francês, Nicolas Sarkozy, poderão insistir em seu recém-formulado plano de "refundação da Europa", mas até no governo da Alemanha há dúvidas sobre o êxito dessa iniciativa. Talvez os países da zona do euro e mais uns cinco aceitem uma coordenação de orçamentos e supervisão fiscal pelas autoridades do bloco, disse ontem um funcionário alemão citado pela agência Dow Jones. Mas será preciso mais que isso para o mercado financeiro aceitar uma trégua e reduzir a pressão sobre os Tesouros. Os chefes de governo dos 27 países-membros do bloco devem ter suficiente consciência do risco para evitar pelo menos a impressão de mais um fracasso. A discussão começará hoje à noite, durante um jantar informal organizado pelo presidente do Conselho Europeu, o belga Herman Van Rompuy. A conferência oficial começará na sexta-feira de manhã, depois da cerimônia de admissão da Croácia à União Europeia. Pelo menos o presidente croata, Ivo Josipovic, deve acreditar no futuro da Europa unida. Enquanto se espera a reunião, o palco é tomado pelo Banco Central Europeu (BCE). Fala-se nos mercados de mais um corte de juros, hoje, e do anúncio de novas medidas de ajuda a instituições privadas. O BCE, segundo se especula, poderá afrouxar os critérios de garantias e alongar os prazos de empréstimos aos bancos, para aumentar sua capacidade de financiamento a empresas e consumidores. Os juros básicos na zona do euro foram reduzidos há pouco tempo de 1,5% para 1,25% ao ano e poderão agora diminuir, segundo se estima, para 1%. Se essas expectativas se confirmarem, pelo menos a política monetária continuará contribuindo para atenuar as tensões. Na semana anterior, seis dos maiores bancos centrais do mundo rico, liderados pelo americano Federal Reserve, haviam montado um esquema para abastecer com dólares o mercado europeu. Foi a medida mais efetiva, em muito tempo, para conter a crise financeira na Europa. As boas notícias têm sido insuficientes, no entanto, para dissipar o pessimismo em relação ao futuro do euro e à situação econômica e financeira da região. Quinze países da zona do euro estão ameaçados de rebaixamento pela agência de avaliação de riscos Standard & Poor's. Um deles é a França, um dos seis membros do bloco ainda classificados com a nota máxima (AAA). Entrevistado sobre o risco de redução da nota, o ministro da Economia da França, François Baroin, vinculou essa possibilidade ao resultado da reunião de cúpula. Ontem de manhã os mercados iniciaram as operações num ambiente de otimismo, depois de rumores sobre o uso combinado de dois fundos de resgate para o combate à crise regional. Para isso seria necessária a operação simultânea da Linha de Estabilidade Financeira Europeia (EFSF, na sigla em inglês) e do Mecanismo de Estabilidade Europeu (ESM). Os dois poderiam dispor, conjuntamente, de cerca de 1 trilhão. Mas o governo alemão desmentiu logo de manhã essa possibilidade. O ESM só deverá entrar em operação quando o outro for extinto, em 2013. O humor logo piorou nos mercados europeus e o efeito se repetiu no resto do mundo. A única novidade positiva, nessa área, foi o anúncio do lançamento, ainda em dezembro, de títulos de curto prazo pela EFSF, por enquanto abastecida com apenas 440 bilhões. Embora os 17 governos da zona do euro tenham combinado elevar para 1 trilhão o dinheiro disponível para esse fundo, quase nada se fez até agora para a concretização desse plano. Enquanto se esperam ações conjuntas, os governos dos países mais endividados e mais pressionados pelo setor financeiro vão anunciando seus planos de ajuste, numa tentativa de acalmar os mercados. O efeito desses anúncios tem sido muito limitado. Sem ação conjunta nada se resolverá e os participantes do novo encontro de cúpula em Bruxelas sabem disso.