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Empresas aéreas se apertam

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Por Redação
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Bastante pessimista, o último levantamento da Associação Internacional de Transporte Aéreo (Iata) revela que 63% das companhias do setor apresentaram queda de lucros no quarto trimestre de 2011, com redução do movimento. A expectativa é de que a rentabilidade continue a declinar este ano, em decorrência da retração da economia dos países da zona do euro e de um crescimento ainda pouco significativo da economia dos EUA, onde a demanda por viagens aéreas domésticas caiu 0,8% em novembro em comparação com o mesmo mês de 2010. No melhor cenário, a Iata estima que as empresas aéreas deverão sofrer, globalmente, uma redução dos lucros, que poderão cair para US$ 3,5 bilhões este ano, em comparação com US$ 4,9 bilhões em 2011. Se a crise da zona do euro descambar para uma crise bancária sistêmica, os prejuízos podem chegar a nada menos que US$ 8,3 bilhões. As mais prejudicadas deverão ser as companhias europeias, especialmente em seus mercados domésticos. A demanda de passageiros está em queda na Europa, mas ainda apresentou um crescimento de 4,9% em novembro de 2011, sempre em comparação com idêntico mês do ano anterior. O número de viagens de negócios de empresários alemães ligados à exportação foi responsável por essa expansão. Já as companhias da América do Norte fizeram cortes na capacidade de transporte como forma de proteger a rentabilidade. Parte do problema é atribuída à alta dos preços do combustível de aviação, que afetou a competitividade das companhias aéreas nos EUA e na Europa em relação a outras alternativas de transporte. Além disso, a classe executiva perde clientes para a classe econômica, num ambiente de austeridade. E o transporte de carga diminuiu tanto nos últimos meses que mal cobre os custos, segundo a Iata.Em contraste, o setor continua em crescimento no Oriente Médio (9,8% no número de passageiros e 4,6% no volume de carga) e na América Latina (8,8% no de passageiros e 4,0% no de carga). A China é um caso à parte. Sua demanda doméstica apresentou o maior crescimento mundial no período considerado (17,2%). A sua capacidade de transporte aumentou menos (13,3%), o que explica uma taxa média de ocupação de 80,7%. A rentabilidade das empresas aéreas dos países emergentes tende, portanto, a ser maior, embora a Iata duvide que algum país possa escapar dos efeitos da crise na Europa. No Brasil, a alta do combustível também resultou em um substancial aumento dos preços das passagens aéreas, principalmente em rotas com maior demanda, mas isso não parece ter tido efeito sobre o fluxo de passageiros. A guerra de preços continua, mas limitada às rotas de menor procura ou àquelas em que a competição é mais acirrada. Os aeroportos nacionais estão congestionados neste início de ano, período de férias, e o movimento não deve cair nos próximos meses.O que se nota no País é uma expansão da aviação regional, aumento da oferta de táxis aéreos, ao lado de consideráveis investimentos das companhias de maior porte para aumento da frota. Tem havido também um movimento de concentração. Em julho, a Gol adquiriu 100% do capital da Webjet, uma empresa de tarifas econômicas e, extrapolando as fronteiras nacionais, a TAM fundiu-se com a Lan Chile. Como informa a Iata, a demanda doméstica de passageiros no Brasil cresceu 9,4% em novembro em relação a novembro do ano anterior, o que é compatível com a expansão da capacidade de transporte, que foi de 10,3%, sendo a taxa de ocupação média de 65,7%. Os últimos números da Agência Nacional da Aviação Civil apontam um crescimento de 15,5% do número de passageiros em 2011, incluindo voos nacionais e internacionais. O problema no Brasil não é a falta de capacidade de atendimento pelas empresas aéreas, que vêm dando conta da demanda, apesar de falhas de organização do tráfego, mas as deficiências da infraestrutura aeroportuária e sua precária gestão.