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Empresas menos endividadas

Se a economia continuar a mostrar bons sinais, em algum momento as empresas voltarão a tomar recursos para investir no aumento de sua capacidade operacional

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Por Redação
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A situação financeira das empresas está melhorando. Essa é uma boa indicação de que, se a economia continuar a mostrar bons sinais, em algum momento elas voltarão a tomar recursos para investir no aumento de sua capacidade operacional e, desse modo, impulsionar a recuperação. Embora as pesquisas mostrem que a melhora ainda está limitada a empresas de maior porte, a queda do nível de endividamento observada pela primeira vez em vários anos comprova uma salutar mudança nas condições para a atividade empresarial. Como o endividamento, também diminuem os pedidos de recuperação judicial, que, nos últimos anos, haviam alcançado números recordes.

A dívida líquida das empresas com ações negociadas em bolsa totalizou R$ 533,5 bilhões no fim do primeiro semestre deste ano, valor 1,4% menor do que o registrado em igual período de 2016, como mostrou reportagem do Estado. Aferida pela consultoria Economática, esta é a primeira redução da dívida dessas empresas depois de seis anos de aumento contínuo.

Destaque-se que esse resultado não inclui os dados da Petrobrás, que, submetida por sua diretoria a um processo de forte ajuste financeiro envolvendo até mesmo a venda de ativos, reduziu seu endividamento em 11%. Dado o peso da Petrobrás no total dos ativos das companhias com ações negociadas no mercado, a evolução da dívida seria melhor caso os dados da petroleira tivessem sido considerados.

Parte da melhora da situação financeira das empresas decorreu de um fator externo a elas, sobre o qual não têm controle. Trata-se da redução da taxa de câmbio. As empresas com dívida em dólar tiveram seu endividamento em real reduzido por conta da queda da cotação da moeda americana.

Além de beneficiadas pelo câmbio, muitas empresas conseguiram trocar dívidas de curto prazo por outras de longo prazo, o que lhes reduziu substancialmente os compromissos financeiros imediatos. Também o custo da dívida foi reduzido, com a substituição de juros altos fixados à época da contração da operação por custos mais baixos.

Para reduzir sua dívida, algumas empresas venderam ativos, fecharam unidades menos lucrativas e tornaram suas operações mais rentáveis. Outras, como lembrou o economista José Roberto Mendonça de Barros, da MB Associados, conseguiram reduzir custos, aumentar a produtividade, redefinir a linha de produtos e se reposicionar no mercado.

O resultado dessas iniciativas é promissor. Relatório do banco Santander baseado nos balanços das empresas relacionadas no Ibovespa mostra que melhorou substancialmente a capacidade de pagamento da dívida. Em 2015, com sua capacidade de geração de caixa, as empresas com ações em bolsa levariam 3,7 anos para pagar suas dívidas; no segundo trimestre de 2017, o prazo caiu para 2,1 anos. Ainda é maior do que a média histórica, de 1,5 ano, mas mostra uma sensível melhora.

Os problemas não acabaram. No caso das empresas de capital fechado, em geral de menor porte do que as de capital aberto, com menos acesso ao crédito bancário e que publicam dados anualmente, 35,6% não tinham capacidade de pagar suas dívidas no fim do ano passado, de acordo com o Centro de Estudos do Instituto Ibmec (Cemec). Nas companhias abertas, o índice das que estavam sem condições de honrar a dívida caiu de 49,8% em 2015 para 46,4% no primeiro trimestre deste ano. É uma porcentagem alta, que pode comprometer a capacidade de reação dessas empresas quando se consolidarem os sinais de recuperação econômica.

Apesar da melhora, não há indicações fortes de que as empresas estejam em busca de recursos para investir. Boa parte delas ainda opera com grande ociosidade, a oferta de crédito continua limitada pelas políticas conservadoras das instituições financeiras e ainda é tênue a confiança do empresariado. Incertezas quanto ao andamento das reformas essenciais ao crescimento e à estabilidade do governo também constrangem os investimentos.