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Energia mais cara

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Por Redação
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O aumento excepcional do preço da energia elétrica no mercado de curto prazo, como parte de uma onda altista que se observa desde junho e pode se estender até 2011, é apenas o primeiro problema - e o mais sensível ao bolso - que os consumidores enfrentam por causa da estiagem. Com a redução do nível dos reservatórios das usinas hidrelétricas, é cada vez mais intenso o uso das termoelétricas, que produzem energia a um custo bem mais alto e causam mais danos ambientais. Mas o custo adicional para os consumidores, embora possa ultrapassar a casa do bilhão de reais em 2010, talvez nem seja o pior dos problemas. Para os reservatórios da Região Sudeste, este está sendo o pior mês de setembro desde 2001, quando houve o racionamento que o petismo não se cansa de explorar. O risco de o problema se repetir no seu governo é cada vez maior.Há pouco mais de três semanas, quando os relatórios sobre a situação dos reservatórios das hidrelétricas em todo o País, com exceção dos da Região Sul, já eram preocupantes, o ministro de Minas e Energia, Márcio Zimmermann, garantia não haver nenhum problema no setor, pois a seca não afetaria o abastecimento. Dizia até que poderia reduzir, de 4,0 mil megawatts (MW) médios para 2,5 mil MW, a geração pelas usinas térmicas, que utilizam combustíveis fósseis (carvão, óleo combustível ou gás natural). Já naquele momento, porém, por causa da preocupante situação dos reservatórios, o Operador Nacional do Sistema (ONS) tinha decidido quadruplicar a participação das térmicas na produção nacional de energia em relação a 2009. Em agosto do ano passado, as térmicas responderam por 2,7% da produção; no mês passado, a fatia subiu para 12,1%. Com o agravamento do problema, apesar da aparente tranquilidade do ministro, em setembro, até o dia 22, as térmicas tinham respondido por mais de 20% da energia consumida no País.O resultado, como mostrou o jornal Valor, foi a disparada dos preços da energia no mercado de curto prazo. Em uma semana, o preço de liquidação das diferenças, considerado o preço do mercado à vista, subiu 30%, aumento compatível com a decisão anunciada na quinta-feira pelo ONS sobre o custo adicional de todo o sistema de geração de energia em razão do acionamento das termoelétricas.As hidrelétricas são acionadas por um insumo em tese gratuito - a água dos rios -, enquanto as térmicas pagam por metro cúbico de gás ou por litro de óleo combustível consumido.No mercado à vista, a energia foi negociada nos últimos dias a R$ 245 por MWh no Norte e no Nordeste e a R$ 165 no Sudeste e no Centro-Oeste. Na semana passada foram acionadas termoelétricas que produzem energia a R$ 500 o MWh. Outras, cuja operação poderá ser autorizada pelo Comitê de Monitoramento do Setor Elétrico, produzem a R$ 1.000 por MWh.Os grandes consumidores de energia estimam que, no primeiro semestre de 2010, o uso das termoelétricas elevou em R$ 600 milhões o gasto dos brasileiros com energia. Esse custo adicional é rateado entre os consumidores das áreas atendidas pelo Sistema Interligado Nacional, que abrange quase todo o País.É impossível, no momento, estimar qual será o custo adicional total em que incorrerão os consumidores neste ano. Em 2008, outro ano em que as usinas térmicas foram utilizadas com intensidade, o custo adicional total chegou a R$ 2,5 bilhões.Além de o período de seca em 2010 ser mais longo e mais severo do que o de 2009, neste ano, ao contrário do anterior, quando o PIB encolheu, a atividade econômica é intensa e o PIB pode crescer mais de 7%, o que tem impacto direto sobre o consumo de energia elétrica.Em julho, o ONS concluiu seu Planejamento de Operação Energética, um documento elaborado anualmente para balizar sua atuação, no qual não identificou nenhum risco para o abastecimento. "Mesmo na hipótese de condições hidrológicas adversas, o atendimento ao mercado estará assegurado" pela geração térmica adicional necessária para garantir níveis mínimos de segurança nos reservatórios, segundo o ONS. Os consumidores não estão tão certos disso.