Imagem ex-librisOpinião do Estadão

Entraves à desejada parceria

Exclusivo para assinantes
Por Redação
2 min de leitura

Como parte de sua estratégia destinada a evitar a perda, para a China, da influência e do espaço econômico conquistados pelo Japão em diferentes regiões, o primeiro-ministro Shinzo Abe visitou o Brasil na semana passada, abrindo nova oportunidade para o aprofundamento da cooperação entre os dois países em diversos campos.O fato de Abe ter viajado com dirigentes de mais de 40 dos principais grupos econômicos japoneses, muitos com longa presença no Brasil, e de ter participado de encontros empresariais em Brasília e em São Paulo denota seu interesse na ampliação da cooperação econômica. Como destacou o governante japonês, porém, a cooperação pode se estender para as áreas de ciência e tecnologia, saúde e educação.São muitas as oportunidades de cooperação, observam de tempos em tempos governantes e empresários dos dois países. Além de o Brasil abrigar a maior comunidade de origem japonesa fora do Japão - estima-se em 1,8 milhão o número de japoneses e descendentes que vivem no País -, é forte a presença de trabalhadores brasileiros no Japão. No campo econômico, o comércio bilateral é expressivo e grandes investimentos japoneses são feitos aqui há mais de 60 anos.Houve, nas últimas décadas, um período de esfriamento das relações econômicas entre os dois países. As dificuldades que a economia brasileira enfrentou por causa da hiperinflação na década de 1980 afugentaram os investidores japoneses. Nas décadas seguintes, os problemas em que o Japão mergulhou e que derrubaram sucessivos governos - o de Abe ainda tenta superar os problemas, por meio de rígida política fiscal e de estímulo aos investimentos e ao consumo - e a decisão dos japoneses de fortalecer sua influência econômica no Sudeste da Ásia e na China reduziram ainda mais o interesse pelo Brasil.Um pequeno grupo de dirigentes empresariais dos dois países, com experiência nas relações bilaterais, no entanto, continuou a avaliar as possibilidades de ampliação dessas relações, o que evitou sua deterioração mais acentuada. Além disso, nos últimos anos, grandes empresas japonesas identificaram oportunidades de investimentos em áreas como infraestrutura e energia, nas quais fizeram aplicações volumosas. Os investimentos japoneses no Brasil já somam US$ 35 bilhões (resultado acumulado até dezembro de 2012). Mas poderiam ser muito maiores.Com o conhecimento proporcionado pelo capital investido e, em vários casos, pela longa experiência no Brasil, dirigentes empresariais japoneses foram francos em apontar fatores que limitam o aumento dos investimentos no País. São problemas conhecidos de governantes responsáveis e investidores nacionais e estrangeiros, como a precariedade da infraestrutura, o ambiente desfavorável para os negócios e a escassez de mão de obra preparada para o desempenho das funções mais complexas criadas pela modernização constante do setor produtivo.No comércio bilateral, são igualmente amplas as oportunidades de expansão, o que interessa sobretudo aos produtores brasileiros, que vêm encontrando dificuldades de acesso aos principais mercados. Parte dessas dificuldades seria superada com acordos comerciais, como os que o Japão tem concluído com diferentes países, inclusive latino-americanos, como México, Chile, Colômbia e Peru - antes do Brasil, Abe visitou os três primeiros, além de Trinidad e Tobago.Com mais razão, o Japão poderia ter fechado um acordo com o Brasil. É marcante a influência da imigração japonesa no País, que se tornou importante parceiro comercial do Japão e, no momento, é seu aliado na campanha pela reforma do Conselho de Segurança da ONU - do qual querem tornar-se membros permanentes.Mas, preso às regras do Mercosul - que o governo do PT insiste em reforçar e ampliar -, o Brasil só pode assinar acordos comerciais se todo o bloco aceitar. A Argentina, parceira preferencial do governo petista, tem rejeitado acordos desses tipo. É outro entrave que, discretamente, os japoneses apontaram.