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EUA avançam, Brasil derrapa

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Por Redação
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A produção americana deve crescer em torno de 3% neste ano e dar um forte empuxo à economia global, se os fatos confirmarem as novas projeções do Federal Reserve (Fed, o banco central dos Estados Unidos). O governo brasileiro deveria torcer por essa confirmação, embora o Brasil esteja menos preparado que outros países para se beneficiar da reativação do principal mercado - ou um dos principais, se a Europa Ocidental e o Japão forem incluídos na conta. Segundo aquelas projeções, a expansão da maior economia do mundo ficará entre 2,8% e 3,2% em 2014. No próximo ano, o crescimento poderá ganhar impulso e alcançar a faixa de 3% a 3,4%. Para 2016 está prevista uma pequena acomodação, com a velocidade recuando para o intervalo de 2,5% a 3,2%. O desemprego continuará em queda e a inflação máxima prevista, de 2%, poderá ocorrer a partir de 2015. Pelas previsões correntes, a economia dos Estados Unidos deve crescer mais que a brasileira neste ano. O limite inferior das projeções do Fed, de 2,8%, é bem mais alto que a mediana das estimativas do mercado financeiro para a expansão do Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil, de 1,95%. Essa previsão foi coletada na sexta-feira passada em pesquisa realizada semanalmente pelo Banco Central.Recém-nomeada para assumir a presidência do Fed no fim do mês, a economista Janet Yellen, diretora da instituição, aposta publicamente num crescimento de 3%. Esse é o ponto médio das projeções incluídas na ata da última reunião do Comitê de Mercado Aberto, responsável pela política monetária dos Estados Unidos. A maior parte de seus colegas, disse Yellen, sustenta a mesma previsão. Além disso, na última reunião a maioria dos membros do comitê defendeu uma redução apenas gradual dos incentivos monetários à reativação econômica. A nova fase deve começar neste mês. O dinheiro injetado no sistema financeiro por meio da compra mensal de títulos públicos deve passar de US$ 85 bilhões para US$ 75 bilhões. O ritmo da redução será definido nos próximos meses, de acordo com a evolução dos principais indicadores, com destaque para o nível de emprego. Os juros básicos, na faixa de zero a 0,25% ao ano, deverão ser mantidos por um período mais longo. A subida dos juros poderá começar quando o desemprego cair para 6,5% (o último número é 6,7%) e a inflação projetada para dois anos bater em 2,5% (continua abaixo da meta de 2%). Não se trata, no entanto, da fixação de gatilhos. Outros fatores poderão ser considerados. Mesmo com a recuperação da economia, a política monetária americana continuará, pelas indicações atuais, muito suave pelo menos por uns dois anos. A mesma previsão vale para a ação dos bancos centrais da Inglaterra (BoE) e da zona do euro (BCE). Os diretores do banco inglês decidiram na quinta-feira manter os juros básicos em 0,5% ao ano e prolongar o programa de compra de títulos públicos. No mesmo dia os dirigentes do BCE anunciaram a manutenção dos juros básicos em 0,25% e a taxa marginal de empréstimos em 0,75%.O presidente da instituição, Mario Draghi, repetiu a promessa de uma política acomodatícia "pelo tempo necessário" e de novos estímulos em caso de necessidade. Os indicadores econômicos europeus têm melhorado, mas a recuperação, segundo Draghi, é "fraca, modesta e frágil". A cautela é compreensível, embora sinais positivos tenham aparecido até em algumas das economias mais afetadas pela crise financeira, como a espanhola, a portuguesa e a irlandesa. Mas nem tudo é boa notícia para o Brasil. A nova política do Fed, mesmo suave, torna mais escassa a oferta de dólares. A saída de US$ 12,26 bilhões em 2013, a maior em 11 anos, foi atribuída pelo jornal Financial Times principalmente à expectativa de redução gradual daqueles estímulos. A explicação talvez seja correta. Mas, pesados todos os fatores, parece irrealista deixar de lado outra variável: a desconfiança em relação à política brasileira, já notada no começo de 2013 e confirmada nos primeiros leilões de infraestrutura. O risco de erro é menor, se a perda dos dólares for atribuída à confluência desastrosa de fatores externos e internos.