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Façanha do Senai

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Por Redação
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As vitórias esportivas internacionais do Brasil costumam ser comemoradas com estrépito. Já não é o mesmo com as conquistas do País nos campos científico e educacional, que, até por serem raras, mereciam maior celebração. Este é o caso do grupo de 28 alunos do Senai que obteve o segundo lugar no disputado torneio WorldSkills International, realizado em Londres neste mês, com a participação de 944 competidores de 51 países, no qual os brasileiros ficaram atrás apenas da Coreia do Sul, superando, entre outras, as equipes do Japão, Suíça, Alemanha, França e EUA. O feito é particularmente relevante em uma fase em que o Brasil se ressente da falta de mão de obra especializada para sustentar o seu crescimento, evidenciando quanto o País pode avançar em termos de capital humano, se elevar a qualidade do ensino e abrir mais oportunidades para os jovens de todas as classes sociais. Os resultados comprovam também a excelência do ensino profissionalizante proporcionado pelo chamado Sistema S, que pode e deve ser ampliado. No mais importante torneio internacional de capacitação profissional, realizado a cada dois anos, em diferentes cidades do mundo, os jovens brasileiros participantes, procedentes de vários Estados, repetiram a conquista de 2007 e garantiram sua classificação pelo somatório das medalhas de ouro (seis), de prata (três) e de bronze (duas), além de dez certificados de excelência, o que os coloca entre os mais bem preparados do mundo.Como destacou o professor José Pastore, em artigo no Estado de terça-feira (25/10), já vão longe os tempos em que as famílias rejeitavam certas profissões por serem de "mãos sujas", uma concepção ultrapassada em vista da demanda crescente em todo o mundo de profissionais especializados em setores como desenho mecânico, eletrônica industrial, mecânica de refrigeração, mecatrônica, web design e joalheria, para mencionar apenas as especialidades em que os alunos do Senai mais se destacaram. E é justamente em áreas técnicas, como estas, onde está a melhor oferta de empregos. "Numa pesquisa feita em junho de 2011 pela União Europeia", relata Pastore, "71% dos entrevistados indicaram que as escolas profissionais desfrutam de uma imagem altamente positiva. Cerca de 80% consideram o ensino técnico como absolutamente necessário para as empresas e para as pessoas, que, com ele, passam a ter melhores oportunidades de trabalho."Executivos de companhias nacionais e internacionais têm-se queixado muitas vezes não só dá escassez de engenheiros, pesquisadores e especialistas de alto nível para que possam tocar novos projetos no Brasil. Eles constatam uma falta ainda mais aguda de "tecnólogos", como designam os profissionais de nível médio, capazes de fazer a ponte entre as equipes de gestão e o chão da fábrica, de encarregar-se de trabalhos que exigem perícia e precisão ou de pessoas habilitadas a atender diretamente o público na prestação de serviços.As próprias empresas chamam a si a tarefa de treinar esses profissionais, mesmo sabendo que correm risco de perdê-los para a concorrência, em face da demanda dessa mão de obra no mercado. Importar técnicos é às vezes a solução, e muitas empresas têm feito isso, aproveitando a recessão e o desemprego no mundo desenvolvido. Mas está claro que o interesse nacional requer que brasileiros, em número cada vez maior, sejam qualificados para ocupar essas vagas.O governo não ignora essa deficiência, e escolas técnicas têm sido instaladas em várias regiões. Segundo o Instituto Nacional de Pesquisas Educacionais, as matrículas em escolas profissionalizantes atingiram 10% do total dos alunos de nível médio em 2009, o dobro de 2001 (5%), mas ainda assim uma quantidade insuficiente para atender às necessidades atuais do País e, principalmente, do futuro.Os resultados WorldSkills International dissipam qualquer dúvida sobre a importância fundamental do Sistema S nesse quadro. O Senai não só capacita seus alunos, mas seleciona os melhores para representar o País. Ao brilharem no exterior, eles servem de exemplo no plano interno.