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Fed surpreende e alivia

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Por Redação
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Dólares vão continuar inundando o mercado financeiro ainda por algum tempo, até o Federal Reserve (Fed, o banco central americano) decidir iniciar, finalmente, a redução da atual política de estímulos à recuperação da economia. Em vigor há cerca de um ano, essa estratégia, reafirmada na quarta-feira, consiste na emissão mensal de US$ 85 bilhões para a compra de papéis do Tesouro e de papéis lastreados em hipotecas imobiliárias. O objetivo é fornecer recursos para a expansão do crédito, a recuperação do setor de imóveis e a redução de juros de longo prazo, condições importantes, segundo os formuladores da política, para a reativação dos negócios. A produção e o emprego têm crescido, mas o Comitê de Mercado Aberto, responsável pela política monetária, decidiu esperar mais evidências de recuperação sustentável, segundo nota oficial. O aumento recente dos juros de mercado e o aperto da política orçamentária - consequência de impasse entre a Casa Branca e o Congresso - podem prejudicar a reativação econômica, de acordo com o comunicado. A ação do Fed continua sendo, em boa parte, um contraponto à política fiscal restritiva. O problema pode prolongar-se com a queda de braço entre governo e oposição a respeito da elevação do teto da dívida federal. A resistência dos parlamentares republicanos continua resultando em dois efeitos importantes para todo o mundo: uma recuperação abaixo do potencial, nos EUA, e uma política monetária frouxa, adotada como compensação parcial do arrocho orçamentário. Com a decisão de quarta-feira, outra vez o Comitê de Mercado Aberto do Fed surpreendeu os analistas e estrategistas do setor financeiro e motivou um recuo das cotações do dólar na maior parte dos mercados, incluído o brasileiro. Segundo a maioria dos especialistas sondados, nos dias anteriores, pelos meios de comunicação, o comitê deveria anunciar, depois da reunião de quarta-feira, uma pequena redução dos estímulos, primeiro passo para a mudança. Ninguém se arriscou a prever uma alteração radical a curtíssimo prazo, mas, apesar disso, a decisão foi esperada com sinais de ansiedade. Os mercados têm funcionado com muito nervosismo e muita especulação desde o primeiro anúncio, no fim do primeiro semestre, da possível mudança da política monetária americana ainda neste ano. O Comitê de Mercado Aberto jamais apontou uma data para o início da nova etapa. Além disso, nunca indicou a intenção de alterar radicalmente a estratégia em poucos meses. Mesmo assim, o banco central americano foi acusado mais de uma vez, nos últimos meses, de falhar na comunicação. De fato, muitos especuladores interpretaram as notas e atas divulgadas pelo Fed como quiseram. O comunicado da quarta-feira foi tão claro quanto os anteriores: não há um curso predeterminado para as compras de papéis e o ritmo das operações dependerá da avaliação da economia. A redução das compras de títulos, provavelmente gradual, será o começo de um lento aperto monetário. A segunda parte da mudança, a elevação dos juros básicos, atualmente na faixa de zero a 0,25%, dependerá principalmente de outros dois indicadores: desemprego igual ou inferior a 6,5% e projeção de 2,5% para a inflação de dois anos à frente. Não se trata, no entanto, de gatilhos, advertiu mais de uma vez o diretor do Fed, Ben Bernanke. Para o governo brasileiro, a manutenção da política monetária frouxa, nos Estados Unidos, diminui o risco de pressão inflacionária associada ao câmbio. Em outros tempos, essa política foi criticada por provocar a valorização do real e tornar os produtos brasileiros muito caros e menos competitivos. Outro motivo de especulação deve ser a sucessão de Bernanke no começo do próximo ano. Um fator de ansiedade foi eliminado, há dias, quando o ex-secretário do Tesouro Lawrence Summers, apontado como o preferido do presidente Barack Obama, decidiu retirar-se da disputa. Summers é descrito como partidário de uma rápida alteração do rumo do Fed. Não faltarão, no entanto, novos pretextos para especular.