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FMI cata dinheiro para a crise

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Por Redação
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Com o prolongamento da crise na Europa e o aumento de riscos para as economias emergentes e também para os países pobres, o Fundo Monetário Internacional (FMI) vai precisar de mais dinheiro para novas operações de socorro, estimadas em cerca de US$ 1 trilhão nos próximos anos. A primeira providência será obter US$ 500 bilhões adicionais para ampliar a curto prazo sua capacidade de ação - ou seu poder de fogo, como disse a diretora-gerente, Christine Lagarde, logo depois de uma reunião interna sobre as novas necessidades de financiamento. Está incluído nos US$ 500 bilhões o aporte de US$ 200 bilhões prometido recentemente por governos europeus, segundo informou nessa quarta-feira um porta-voz da organização. Se esse compromisso for cumprido - e nem disso há garantia -, faltará levantar a maior parte do dinheiro. Os grandes emergentes, como Brasil, China, Rússia e Índia, serão provavelmente chamados para contribuir, mas imporão condições para participar. Quando comenta o assunto, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, costuma cobrar uma compensação política - mais peso para os emergentes no comando da instituição.A obtenção de verbas adicionais será especialmente complicada por causa da campanha eleitoral nos Estados Unidos, país detentor da maior cota de recursos do FMI. Já será uma vitória se o governo americano mantiver os US$ 100 bilhões postos à disposição do Fundo em 2009, porque vários congressistas pressionam o Executivo para retirar esse dinheiro. A verba poderia ser usada, segundo plano do Tesouro, como contribuição para o aumento da base normal de recursos do FMI. Além do mais, a oposição americana tem-se manifestado contrária a qualquer ajuda para solução da crise europeia. A contribuição mais tangível tem sido proporcionada pelo Federal Reserve (Fed, o banco central dos Estados Unidos) por meio de empréstimos de liquidez a outros bancos centrais. A diretora Christine Lagarde levará o problema do dinheiro adicional à próxima reunião de ministros de Finanças e presidentes de bancos centrais do Grupo dos 20 (G-20), prevista para os dias 25 e 26 de fevereiro na Cidade do México. A última reunião de chefes de governo do grupo, realizada em novembro, em Cannes, terminou sem nenhuma deliberação importante. Em setembro, durante a reunião anual do FMI, em Washington, Lagarde abriu a discussão sobre a busca de recursos novos para mais ações de socorro. O Fundo está envolvido em cerca de 50 acordos de ajuda a países de todos os continentes. Esses programas envolvem aproximadamente US$ 260 bilhões e beneficiam nações europeias, como Irlanda, Portugal, Grécia e Polônia, grandes emergentes, como o México e Colômbia, e uma porção de economias pequenas e mais pobres. O Fundo precisa preparar-se não só para atuar na Europa, mas também para enfrentar os efeitos da crise do mundo rico em outras economias, como ressaltou a diretora-gerente na terça-feira. O FMI divulgará no dia 24 uma atualização das projeções econômicas de setembro. O Banco Mundial acaba de publicar suas novas projeções, bem mais pessimistas que as formuladas há seis meses. A estimativa do crescimento global em 2011 foi revista de 3,2% para 2,7%. A previsão para 2012 foi reduzida de 3,6% para 2,5%. Também piorou a expectativa em relação a 2013 e a expansão projetada passou de 3,6% para 3,1%. Nenhum país, segundo as previsões, ficará imune à deterioração do quadro econômico.Também a América Latina, depois de um desempenho bastante razoável durante a primeira fase da crise mundial, será afetada, porque as condições do comércio serão mais difíceis e a evolução dos preços das matérias-primas será menos favorável. O crescimento projetado para o Brasil foi reduzido de 4,1% para 3,4% em 2012, mas aumentou de 3,8% para 4,4% em 2013. É inútil discutir, nesta altura, se a previsão mais segura é a do Banco Mundial ou a do governo brasileiro, com sua expectativa de expansão de até 5% neste ano. Muito mais prudente é preparar o País para mais um ano difícil, com estímulos bem planejados e muito cuidado no manejo das finanças públicas.