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GCM abandonou escolas

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Por Redação
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Tem se multiplicado, nessa reta final de seu mandato, a revelação de erros e trapalhadas que se vão juntando aos muitos outros já conhecidos para compor um realista e impiedoso retrato do lamentável governo do prefeito Fernando Haddad. Agora é a vez da Guarda Civil Metropolitana (GCM), que, como mostra reportagem do Estado, reduziu desde o início do atual governo, em 2013, o número de agentes que cuidam da segurança das escolas municipais de ensino fundamental, de pré-escolas e creches, e consequentemente também o das rondas feitas diariamente.

Num e noutro caso, a redução foi considerável. O número de escolas atendidas caiu de 366 em 2013 para 154 em junho de 2016, uma queda de mais da metade – 57,9%. No mesmo período, o número de rondas – as vezes em que uma unidade é visitada – passou de 3.744 para 1.259, diminuição ainda mais acentuada, de 66,3%. Números dessa ordem, em queda contínua, não deixam dúvida de que a situação a que se chegou resulta de uma decisão de relegar a segundo plano a segurança das escolas municipais, não de dificuldades passageiras.

O fato de o número de escolas com policiamento fixo ter aumentado de 52 para 75 não tem maior significado – é irrisório diante do total de unidades próprias da Prefeitura, que é de 1.424 – e não pode, portanto, servir de compensação. Além dessas, há outras 2.025 escolas conveniadas, administradas por entidades privadas. Também não altera o quadro, nessas condições, a existência de 553 escolas com segurança privada.

Diminuir, e ainda mais nessa escala, o serviço de segurança que a GCM presta às escolas municipais é um erro grave, que beira a irresponsabilidade, se se levam em conta os notórios perigos a que estão expostos os alunos. O que a respeito dizem pais, professores e diretores de escolas aponta para casos frequentes de alunos atacados por bandidos para roubar, desde roupas e tênis até celulares, e para oferecer-lhes drogas.

Segundo a diretora da Escola Municipal Raul de Leoni, na zona norte, Márcia Madalena, casos desse tipo “são comuns. Tem gente que fica na porta da escola usando e oferecendo drogas para os estudantes. Fora alguns carros que ficam abordando as meninas, tentando fazer aliciamento”. Como essa é uma escola atendida por guardas fixos, é fácil imaginar o que se passa nas outras abandonadas pelo governo Haddad. Diga-se de passagem que os guardas fixos, pelo menos nessa escola, só comparecem no período da tarde e no máximo três vezes por semana.

O resultado da desastrosa decisão de reduzir a ação da GCM nas escolas é que os pais que têm condições de fazer isso estão apertando o orçamento para pagar transporte escolar para os filhos.

A razão pela qual isso está acontecendo é uma escolha errada de prioridades para o trabalho da GCM. Lembra o presidente do Sindicato dos Guardas Civis Metropolitanos de São Paulo, Clóvis Roberto Pereira, que no final de 2004 havia 6.183 agentes e sua principal atividade era o policiamento escolar: “Hoje são 6.005. Temos menor efetivo e muito mais atribuições”.

Há agentes trabalhando em três inspetorias criadas pelo governo Haddad, no programa De Braços Abertos voltado para dependentes de crack, no combate aos camelôs ilegais e, ainda, aplicando multas de trânsito. Ao fazer isso, sem aumentar o efetivo da GCM, Haddad prejudicou deliberadamente a segurança das escolas, que deveriam ter prioridade em relação a todos aqueles outros setores. É particularmente revoltante tirar guardas de escolas para aplicar multas de trânsito, como se a próspera “indústria de multas”, tão bem servida por modernos equipamentos e muitos outros agentes, precisasse disso.

O secretário de Segurança Urbana, Benedito Mariano, promete aumentar o efetivo da GCM até o fim do ano e “retomar a prioridade” da guarda das escolas. Aí já será o fim do governo Haddad. Tarde demais. Ele está condenado, portanto, a ficar marcado como aquele que relegou a segurança das escolas a segundo plano.